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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Curso de literatura com Ricardo Lísias (3)

Ricardo Lísias, autor de quem já falei aqui, abriu nova turma para o curso de literatura que ele inaugurou no ano passado.

Para quem se interessar, seguem as informações:

PANORAMA DA LITERATURA MODERNA E CONTEMPORÂNEA

Fevereiro
Dia 02, Charles Baudelaire, As Flores do Mal
Dia 09, F. Dostoiévski, Memórias do Subsolo
Dia 16, Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas

Março
Dia 02, José Hernandez, Martin Fierro
Dia 09, T. S. Eliot, Poesia
Dia 16, Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido
Dia 23, Fernando Pessoa, Obra Poética
Dia 30, James Joyce, Ulysses

Abril
Dia 06, Virgínia Woolf, Rumo ao Farol
Dia 13, Franz Kafka, O Processo
Dia 20, V. Maiakóvski, Poemas
Dia 27, Robert Musil, O Homem sem Qualidades

Maio
Dia 04, Bertolt Brecht, Santa Joana dos Matadouros
Dia 11, Jorge Luis Borges, Obra completa
Dia 18, William Faulkner, O Som e a Fúria
Dia 25, Graciliano Ramos, Vidas Secas

Junho
Dia 01, Jean Paul Sartre, A Náusea
Dia 08, Albert Camus, O Estrangeiro
Dia 15, Carlos Drummond de Andrade, Obras completas
Dia 22, Samuel Beckett, Molloy e Esperando Godot
Dia 29, Miguel Angel Astúrias, Sr. Presidente

Agosto
Dia 03, Antonin Artaud, Para acabar com o julgamento de Deus
Dia 10, Walter Benjamin e Theodor Adorno, A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica e A Dialética do Esclarecimento
Dia 17, Paul Celan e Primo Levi, Cristal e É isto um homem?
Dia 24, Tennessee Williams e Edward Albee, Um Bonde Chamado Desejo e Quem tem medo de Virgínia Woolf?
Dia 31, Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas

Setembro
Dia 14, Julio Cortázar, O Jogo da Amarelinha
Dia 21, Truman Capote, A Sangue Frio
Dia 28, Dylan Thomas, Poemas Reunidos

Outubro
Dia 05, Juan Rulfo, Pedro Páramo
Dia 19, Jean Françoise Lyotard e Fredric Jameson, A Condição Pós-Moderna e Pós-Modernismo
Dia 26, Juan Carlos Onetti e Roberto Bolaño, Junta-Cadáveres e Noturno do Chile

Novembro
Dia 09, Luandino Vieira, Luuanda
Dia 16, Thomas Pynchon, O Arco-Íris da Gravidade
Dia 23, Giorgio Aganbem, Estado de Exceção
Dia 30, Thomas Bernhard, O Náufrago

Dezembro
Dia 07, Antonio Lobo Antunes, Os Cus de Judas
Dia 14, Edward Said, Orientalismo
Dia 21, John Maxwell Coetzee, Desonra

O curso funciona através de 39 encontros, com apresentações expositivas sobre os autores por uma hora e trinta minutos, em média. Depois, há mais trinta minutos para as perguntas.

Local: Rua Cristóvão de Burgos 52 (a 50 metros do metrô Vila Madalena)
Horário: às segundas feiras, das 20 às 22 horas
Valor: 180 reais por mês (com exceção do mês de julho, quando não há encontros)
Vagas: 25
Informações: rlisias@yahoo.com.br

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Curso sobre contos

Começa na segunda-feira, dia 20, o curso Seis Contos Essenciais, Seis Contistas Exemplares, na Casa do Saber da Mário Ferraz.

As aulas serão dadas pela professora Sandra Guarini Vasconcelos, da Letras/USP, que conheço só de nome, mas que tem fama de ser maravilhosa. Morro de vontade de assistir a uma aula dela, nem que para isso eu tenha de me esconder no fundo de alguma sala de graduação na FFLCH.

O curso vai falar de Poe, um dos precursores da literatura policial, genêro que, como já repeti à exaustão, é o meu preferido e eterno objeto dos meus estudos críticos. Além dele, outros contistas excepcionais como Hemingway e Virginia Woolf, que já citei em outros posts.

Minha carência de debates literários inteligentes é tanta que estou até pensando em arcar com o custo e a dose extra de paciência que a chamada DaslUsp exige.

domingo, 5 de outubro de 2008

Pano rápido

Do sempre competente Luis Eduardo Matta leio um artigo sobre a juventude nas livrarias e me lembro de como eu era quando criança em relação à leitura.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Encontro: Prática de escrita

É nesse sábado, dia 4, na Universidade Cruzeiro do Sul - Campus Anália Franco, o Encontro Prática de Escrita - Leitura, Feitura e Publicação.


As inscrições são gratuitas e a programação está pra lá de interessante. Tem Luis Eduardo Matta, autor do thriller bacana 120 Horas, falando sobre literatura e cinema, Marcelino Freire falando sobre oficinas literárias e discussões sobre o mercado editorial e literatura fantástica.

Só os céus sabem como ando precisada de uma dose de conversa literária. Ando pensando seriamente em cabular o casamento que tenho no sábado de manhã para ir a esse evento. Se, ao contrário de mim, você não tem de aplaudir noivas e comer bem-casados, vá ao encontro, ora.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Curso: Literatura na Modernidade

Começa hoje o ciclo de palestras do Instituto de Formação e Educação (IFE) com o tema Literatura na Modernidade. São seis encontros que abordam autores como Thomas Pynchon, Kafka e Guimarães Rosa e procuram discutir como a literatura é essencial em tempos de perplexidade como os que vivemos hoje.

Não conheço os palestrantes, à exceção de Martim, com quem trabalhei brevemente na Livraria Cultura, mas o tema e os autores abordados parecem bastante interessantes.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Prêmio SESC de Literatura

Ainda dá tempo de participar do Prêmio SESC de Literatura. Não há prêmio em dinheiro, mas os vencedores nas categorias Conto e Romance terão seus livros publicados pela editora Record.

As inscrições vão até 15 de agosto. O site do Prêmio traz o edital e explica como fazer para se inscrever.

Boa sorte aos escritores destemidos!

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Curso de literatura com Ricardo Lísias (2)

Ricardo Lísias abriu nova turma para seu curso livre intitulado PANORAMA DA LITERATURA MODERNA E CONTEMPORÂNEA. Fiz parte, durante breve período, da turma das segundas-feiras e recomendo. A aula sobre Baudelaire foi muito rica e gerou dois posts aqui no Casco: Baudelaire e o duplo (1) e (2).


No próximo semestre, as aulas serão às quartas-feiras, às 20h. Segue programação:

1. Charles Baudelaire - 6 de agosto

2. F. Dostoiévski - 13 de agosto

3. Machado de Assis - 20 de agosto

4. T. S. Eliot - 27 de agosto

5. Marcel Proust - 3 de setembro

6. Fernando Pessoa - 10 de setembro

7. José Hernandez - 17 de setembro

8. James Joyce - 24 de setembro

9. Virgínia Woolf - 1 de outubro

10. Franz Kafka - 8 de outubro

11. V. Maiakóvski - 15 deoutubro

12. Robert Musil - 22 de outubro

13. Bertolt Brecht - 29 de outubro

14. Jorge Luis Borges - 5 de novembro

15. William Faulkner - 12 de novembro

16. Graciliano Ramos - 19 de novembro

17. Jean Paul Sartre - 26 de novembro

18. Albert Camus - 3 de dezembro

19. Carlos Drummond de Andrade - 10 de dezembro

20. Samuel Beckett - 17 de dezembro

Quem precisar de mais informações ou quiser se inscrever, pode entrar em contato com o próprio Ricardo: rlisias@yahoo.com.br.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Literatura feminina

Editora lança selo de literatura feminina
Folha de São Paulo - 19/07/2008
A editora Planeta acaba de lançar no Brasil o selo Essência, inteiramente voltado para a chamada "literatura feminina". Os três primeiros títulos são A rosa do inverno, de Patricia Calbot, Eu pego esse homem, de Valerie Frankel, e O livro secreto do banheiro feminino, de Jo Barrett. Na Espanha, país-sede da Planeta, o selo existe há pouco mais de um ano com o nome de Esencia. No Brasil, o catálogo do selo Essência terá três linhas distintas: romance histórico (histórias de amor ambientadas dos séculos 17 a 19), romance contemporâneo (novamente histórias de amor, aqui com mais humor), e "chick lit" (romances que falam dos altos e baixos na vida amorosa e profissional da jovem mulher urbana). Em breve, o novo selo lançará o site, com mais informações sobre os livros e suas autoras.

sábado, 28 de junho de 2008

Sites interessantes (2)

No começo do ano, recebi um convite que me deixou muito orgulhosa. O competentíssimo pessoal do Homem Nerd pediu que eu fizesse parte da equipe, contribuindo com resenhas de literatura e cinema (a lista completa do que já escrevi está à direita, na coluna cinza, sob o título super criativo "Resenhas que fiz").

A proposta do site, dedicado ao entretenimento, é muito boa. Todos os dias a página inicial traz notícia ligadas a cinema, TV, literatura, música. Periodicamente a equipe prepara um especial que aborda um tema específico e conta com artigos escritos pelos responsáveis por cada área, assim o leitor tem a visão de várias pessoas, sob várias perspectivas, mas dentro de um mesmo assunto. Em fevereiro houve o Especial Oscar 2007 e, em maio, o Especial Mulheres.

Do que mais fico admirada é que o Homem Nerd, um site independente que não conta com apoio financeiro de ninguém, consegue trazer semanalmente a cobertura completa de todas as estréias de cinema, com resenhas e traileres de todos os filmes que entrarão em cartaz, rivalizando com sites como Cineweb, Omelete e Cineclick, só para citar alguns. Outros sites, como Uol, Terra e IG, por exemplo, contam com as costas-quentes de empresas que podem pagar jornalistas profissionais para fazer o mesmo serviço, nem sempre com a mesma competência.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Literatura digital

O futuro do livro, em relação à internet, volta e meia, é assunto de discussão entre jornalistas, livreiros, editores e outros personagens do mercado editorial. A impressão que tenho, cada vez que leio ou testemunho essa discussão, é de que as pessoas acham que o livro em papel não pode coexistir com o meio digital, o que não é verdade. Em um pequenino artigo que escrevi para o Homem Nerd, falei sobre os bons frutos gerados pela relação entre literatura e a Internet.

Projetos como o Gutenberg ou o Domínio Público reúnem a íntegra de textos clássicos para download gratuito. Inúmeros blogs e sites se dedicam a divulgar a literatura de novos escritores, gente que nunca teria tido chance de publicar seus textos se não tivesse sido descoberta pela Internet.

É lógico que a questão dos livros eletrônicos precisa ser considerada, mas acho difícil que um e-book tome definitivamente o lugar do livro impresso. Para gente como eu, grifadores compulsivos, sublinhadores viciados, marcadores inveterados, um livro eletrônico não tem a menor graça.

Ainda assim, é bacana destacar que a tecnologia permite que os textos utilizem recursos inaplicáveis à dupla papel-e-caneta, principalmente no quesito interatividade.

Por exemplo, podemos escolher o nome dos personagens ou que características eles terão. Podemos apontar no mapa por onde o personagem andará, que lugares visitará. Podemos ler o blog de um personagem ou seguir seus passos pelo Twitter. Podemos acompanhar, em tempo real, o autor escrevendo uma história. Podemos escolher o rumo que a história tomará.

Tudo isso é um pouco do que os seis autores reunidos pela Penguin UK fizeram no projeto We Tell Stories. Durante seis semanas, o site do projeto publicou obras de literatura digital, textos amparados em ferramentas exclusivas da Internet.

Liberdade de criação adquire novo significado.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Como ler um livro

Hoje em dia, em que nossa existência virtual rivaliza com a real, ler um livro pode ser considerado démodé, algo como as polainas de lurex dos anos 1970 (à la Julia Matos de Dancing Days), as carteiras OP com velcro e cores chocantes (para usar uma gíria da época) dos anos 1980 ou as calças baggy dos anos 1990 (não sei que moda foi essa, mas ainda bem que passou!).

Assim, é natural, se não fosse tragicômico, que existam manuais que ensinem as pessoas a ler livros. Em tempos de Orkut, Facebook, MySpace, Skype e outras modernidades quejandas, instruções de como usar esse objeto arcaico parecem necessárias.

Há, por exemplo, How to Read a Book (1940), o clássico de Mortimer Adler, que define regras para ler o chamado “cânone ocidental”, as grandes obras necessárias para a formação do pensamento inteligente, liberal e racional.

Adler analisa os tipos de conhecimento que podem ser adquiridos em livros, a forma com que o leitor apreende esse conhecimento e as modalidades de leitura que pode fazer. Segundo o professor, pode-se analisar a estrutura do texto, os argumentos usados para construir a tese do autor, mas é importante formarmos uma opinião crítica acerca do que lemos.


Enquanto Adler se detém em livros de não-ficção, Francine Prose se debruça sobre as obras literárias em Para Ler Como um Escritor (Reading Like a Writer, 2006), na minha cabeceira atualmente. A autora recomenda que o leitor preste atenção a cada detalhe do texto, desde a escolha das palavras até a construção do personagem, que leia nas entrelinhas o que realmente os grandes escritores quiseram dizer.

Uma das técnicas de que mais gosto é a de sublinhar palavras relacionadas a um determinado assunto importante para o enredo. O exemplo que Francine dá é o de um trabalho de escola que ela teve de fazer quando jovem. O professor de Literatura pediu que durante a leitura de Rei Lear, de Shakespeare, e, se não me engano, Édipo, de Sófocles, os alunos destacassem todas as palavras relacionadas ao tema da cegueira. Assim, seria possível comparar de que forma os dois autores constroem os personagens e suas características.

A idéia é excelente, na minha humilde opinião.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Portugal Telecom

Saiu o resultado da primeira peneira do Prêmio Portugal Telecom, dedicado à literatura de língua portuguesa, que distribui 150 mil reais para os três primeiros colocados.


Entre os brasileiros dos 51 livros selecionados pelo Júri Inicial, estão Ódio Sustenido, de Nelson de Oliveira, Conspiração de Nuvens, de Lygia Fagundes Telles, e Histórias de Literatura e Cegueira, de Júlian Fuks. Entre os não-brasileiros, As Mulheres de Meu Pai, do angolano José Eduardo Agualusa, e Longe de Manaus, de Francisco José Viegas.
Agora é esperar até setembro para saber quem seram os top 10.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Literatura na bagagem

No hemisfério norte, onde o clima segue regras quase matemáticas, as pessoas se preparam para a chegada de cada estação do ano com a mesma intensidade como para a visita de um querido membro da família que não vêem há tempos.

Acho que, justamente por não morarem em um país-tropical-abençoado-por-Deus-e-bonito-por-natureza-mas-que-beleza como o Brasil, o verão é a época mais aguardada, quando europeus calçam havaianas de 15 euros, desnudam a brancura láctea nos parques municipais, levando a tiracolo uma sacolinha de livros escolhidos a dedo. Sim, porque o verão pede leituras específicas. Não é qualquer autor que resiste ao calor de 40 graus que cariocamente assola o Mediterrâneo em julho e agosto.

Não consigo falar em leituras de verão em um dia como hoje, em que São Paulo está com 15 graus, mas sensação térmica de 10 graus. É um exercício de imaginação além da minha, não orna. O britânico The Guardian, ao contrário, conseguiu muito mais.

Em artigo publicado no sábado, o jornal pediu a diversos autores que fizessem uma lista de livros para serem lidos durante as férias de verão, de acordo com o lugar para onde pretendem, em teoria, viajar. Entre as sugestões, ler Goethe na Sicília, John Fante em Los Angeles, Saul Bellow em Chicago, Salman Rushdie e Jhumpa Lahiri na Índia, Mehmet Murat Somer na Turquia (interessei-me por este que, ao que parece, escreve histórias policiais em que o detetive é um travesti; insólito, para dizer o mínimo), Murakami e Tanizaki em Tóquio, e muito mais. Mas bacanas mesmo são as sugestões de Colm Tóibín para uma viagem ao Brasil.

Colm Tóibín, autor irlandês de quase 20 livros (alguns publicados no Brasil, como A História da Noite e A Luz do Farol), cita a coletânea de poemas, prosa e cartas de Elizabeth Bishop, registro de quase uma vida toda passada por aqui. A edição mencionada no artigo inclui tradução de poetas brasileiros e três contos de Clarice Lispector, a quem Tóibín chama de “strange Brazilian genius”, recomendando a leitura de A Hora da Estrela.

Tóibin também cita Os Sertões, de Euclides da Cunha, lembrando que o relato sobre Canudos, publicado em 1902, foi a inspiração para Vargas Llosa escrever A Guerra do Fim do Mundo, quase 80 anos depois, em 1981.

O irlandês continua o artigo dizendo que Macunaíma, de Mario de Andrade, mistura o herói cômico ao mitológico e, fazendo coro com Harold Bloom, atesta a genialidade de Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas. Ele encerra a lista com Guimarães Rosa, “ricos, complexos e modernos, como o Brasil”.

A viagem de Colm Tóibín continua pela América do Sul, passando por Argentina, Chile e Colômbia, mas isso não interessa ao nosso orgulho tupiniquim. Bacana mesmo é ver impressos os nomes de alguns dos maiores autores brasileiros em páginas estrangeiras.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Para quem não gosta de ler (2)

Continuando o post abaixo (reparem como sou incapaz de falar de um assunto sem abrir parênteses, colchetes, chaves, posts e tudo o mais que o surrealismo me permitir, para criar conversas paralelas e associações que só fazem sentido na minha cabecinha atrapalhada - olha o tamanho do texto desses parênteses!, tsc, tsc, tsc, sou um caso perdido mesmo...), penso que todo mundo é um leitor em potencial. Basta descobrir o que se quer ler.

Por exemplo, suponhamos um estudante de Direito, nos primórdios da faculdade. Recomendar-lhe-ia que lesse alguns thrillers jurídicos, como os escritos por John Grisham e Scott Turow, ou algo como A Ira dos Anjos, de Sidney Sheldon. E, eu sei, estou me repetindo porque já falei de ambos antes. Mas o que esse estudante quer é vislumbrar os contornos que a vida profissional dele pode adquirir, ainda que fictícios.

Tomemos, então, uma adolescente de 15 anos. Imagino que o maior problemas delas ainda sejam as notas baixas, os meninos e a mãe. Que coisa melhor, então, do que ler O Diário da Princesa, a série inteira, e ficar imaginando que, na verdade, você não é filha dos seus pais e que, a qualquer momento, um mordomo de luvas brancas virá te resgatar dessa vida insuportável (sim, porque, na adolescência, tudo é hiperbólico) e revelar que você é a herdeira de uma pequena fortuna? E se estivermos falando de um garoto de 13 anos, vocês acham que ele não preferiria ser o Artemis Fowl, de Eoin Colfer, ou o Alex Rider, de Anthony Horowitz, dois mini-James Bonds do terceiro milênio? Eu sei que eu gostaria. Ou Capitães da Areia; sempre achei a marginalidade bastante atraente.

O aprendiz de leitor poderia ser, talvez, um rapaz de quase 30 anos, de origem humilde e sem muita instrução, mas que realmente se esforça para estudar e tentar uma carreira. Nesse caso, talvez eu recomendasse histórias da literatura brasileira que mostrassem os sentimentos da forma mais crua possível, que retrate a dificuldade que ele experimenta todos os dias. Algo como São Bernardo, de Graciliano Ramos, ou O Matador, de Patrícia Melo. Histórias com linguagem simples e que fazem com que o leitor médio se identifique com o enredo. Para esse rapaz, Cabeça a prêmio, de Marçal Aquino, então, é essencial.

E para uma dona de casa, de meia-idade, o que eu recomendaria? Talvez Quando Éramos Adultos, de Anne Tyler, ou Um Eco Muito Distante, de Muriel Sparks, ou Laços de Sangue, de Michael Cunningham, livros sobre família, tema tão querido quanto polêmico.

Para mulheres em busca de inspiração, Mulheres de Olhos Grandes, de Angeles Mastretta, ou A Casa das Sete Irmãs, de Elle Eggels. Histórias para pensar, lembrar e fazer ecoar.

Para homens em busca de inspiração, Nem Só de Caviar Vive o Homem, de J.M. Simmel, ou Caim e Abel, de Jeffrey Archer, pedras fundamentais da minha família.

Para adúlteros, Inimigos – Uma História de Amor, de Isaac Bashevis Singer, ou O Livro dos Ciúmes, de Carlos Trigueiro.

Para quem tem doença grave na família, e quer entendê-la, O Lugar Escuro, de Heloísa Seixas, Depois Daquela Viagem, de Valéria Piassa Polizzi, ou os contos, inéditos no Brasil, de Pretending the Bed is a Raft, de Nanci Kincaid.

Para quem tem doença grave na família, e quer afugentá-la, a fantasia da Trilogia do Universo, de Philip Pullman, ou Deuses Americanos, de Neil Gaiman, convidado da Flip.

Há, lógico, as dicas unânimes como, por exemplo, começar lendo contos ou crônicas, porque são mais fáceis, com as quais não concordo. Contos de Machado de Assis, como "Noite de Almirante", são repletos de significados que têm de ser entendidos. Crônicas? É um bom começo, sim, mas não queira debutar nos escritos de Nelson Rodrigues, o maior cronista do urbanismo carioca do século passado. Nelson não tem nada a ver com a fama que lhe impõe e deve ser levado muitíssimo a sério.

Dicas certeiras, como flores na véspera de Santo Antônio, são nomes como Isabel Allende, Agatha Christie, Conan Doyle e Luís Fernando Veríssimo, por exemplo, excelentes contadores de histórias. Mario Prata, cronista hilário do Estadão, também vale. Ruy Castro, com seus livros agradabilíssimos de ler, tanto pelo tema quanto pela habilidade narrativa, também é sério candidato.

A verdade é que não acredito em quem diz que não gosta de ler. Acredito que essa pessoa ainda não encontrou o livro que diz o que ela quer sentir.

Mas ele existe. Basta procurar.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Para quem não gosta de ler (1)

Um querido amigo, sabedor da minha mania por listas e, talvez, inspirado pelo rol que dediquei a Laura e Nina, pediu-me que pensasse em dicas de leitura para quem não gosta de ler. A Iphy, nova amiga velha, em comentário aqui no blog, também mo pediu algo semelhante.

Desde que recebi a incumbência, pus-me a pensar no óbvio. Se alguém não gosta de ler, não adianta recomendar livro nenhum. A pessoa não vai ler o que você indicar. Ela não gosta de ler, não tem nenhuma relação especial com os livros. Ela não entra em uma livraria como se estivesse pisando em solo sagrado, não faz reverência um sebo. Essa pessoa não desconfia do que há escondido nas páginas de um livro. Bom, até aí, você também sabe o que há lá, mas é justamente essa a sua paixão: descobrir, desvendar a existência oculta na ficção.

Mas, por amor ao argumento (eu adorava usar essa frase, nos meus tempos causídicos), suponhamos que essa pessoa, para te agradar, abra o livro que você recomendou. Você se encherá de esperanças, que intimamente sabe serem vãs, regozijando-se por ter trazido aquela alma escura e perdida à luz reveladora da literatura. Sua boa ação, no entanto, se reduzirá a pó quando seu pupilo acabar com sua pretensão pigmaleoa, declarando “nossa, que livro chato”.

Então, não se forma um leitor, não se torna leitor, nasce-se? Não, acho que não. Não nasci leitora, aprendi a ler e depois a ler. Mas, convenhamos, há aqueles em quem a leitura não desperta nada além de desconfiança (“Essa menina deve ter algum problema, só fica jogada no sofá, lendo”), escárnio (“Ler? Você gosta de ler? Putz, que careta”), asco (“Ai, credo, você vai ficar aí, lendo?”) e outras manifestações de repúdio.

Mas, tergiverso.

Talvez seja possível, sim, indicar livros para quem não gosta de ler. O segredo está em ser um tanto psicólogo, outro tanto professor e mais um tanto clarividente. Acredito que a única forma de despertar o gosto pela leitura é encontrar um livro com o qual a pessoa se relacione, ou seja, algo que fale a mesma língua do leitor, que trate de alguma particularidade da vida do leitor.

Para conquistar o leitor, o livro deve agir como um tsunami. Perdoem-me a metáfora pífia, mas insisto nela e digo que é preciso que as areias sejam reviradas, os coqueiros sejam arrancados e todas as certezas sejam abaladas para que um livro conquiste o leitor.

É responsabilidade por demais pesada para um punhado de folhas de papel impressas. Esperamos que elas sejam verdadeiros Alexandres, Átilas, Leônidas ou Césares, que travem batalha atuem com os leitores incautos e os conquistem de forma avassaladora, que vençam todas as resistências, que arrasem com todas as defesas e que o banquete da vitória seja repleto de palavras inéditas, idéias ousadas, enredos incômodos e associações inteligentes.

A verdade é que todos nós queremos ser dominados por um bom livro.

Sorte de quem já foi.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Rabisque seu capítulo

Ficcionistas desse país de meudeus: até a meia-noite de 16 de junho, vocês podem lascar o verbo em uma obra coletiva que será lançada na Bienal do Livro.

O Livro de Todos começou com um capítulo escrito por Moacyr Scliar e narra a história de um adolescente que teve seu computador portátil roubado. No roubo, foi levada também a história que o menino começava a escrever. A partir daí, internautas enviaram suas colaborações, com até 20 mil caracteres, que, depois de editadas por uma comissão, renderam mais 14 capítulos.

Será, no mínimo, curioso conferir o resultado desse patchwork.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Literatura na Mantiqueira

E o Festival Literário de São Francisco Xavier foi uma grata surpresa. Fomos en petit comite passar o sábado nas montanhas, entre letras, livros, literatura e loucos (reparem no post aliterando em L).

Letras, muitas, espalhadas por toda a cidade. A organização do evento decorou a praça, o coreto (sim, tinha um coreto!) e os jardins com letra e mais letras de madeira, fincadas na terra, penduradas em paredes, uma graça.

Livros, havia para todos os gostos. A Saraiva montou uma tenda para vender os títulos escritos pelos autores convidados para os debates e também os textos de gente como Nelson de Oliveira, Andrea Del Fuego, Pietroforte e Adriana Lisboa, todos (salvo engano meu) recomendados por Marcelino Freire, responsável pela oficina literária para estudantes. Comprei Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios, de Marçal Aquino, Bandidos e mocinhas, de Nelson Motta, e Ódio sustenido, de Nelson de Oliveira.

Literatura foi o assunto do dia. O primeiro debate a que assisti foi o Diálogos Literatura e Cinema, com Suzana Amaral (a diretora de A Hora da Estrela e Uma Vida em Segredo), Moacyr Scliar (autor de A Mulher que Escreveu a Bíblia) e ele, a razão da minha viagem, Marçal Aquino. O mediador foi Cunha Jr., apresentador do programa Metrópolis, da TV Cultura, e host oficial do evento. Marçal esteve ótimo, irascível mas adorável, conquistando toda a platéia com opiniões seguras e independentes. Suzana Amaral foi surpreendente e Moacyr Scliar, decepcionante. Ouvir um membro da Academia Brasileira de Letras dizer que "livro bom é livro sem diálogo" foi o fim da picada.

O segundo debate foi o Diálogos Literatura e Bossa Nova. Falou-se muito mais sobre música que sobre literatura, apesar da presença de Zuenir Ventura, mas nem poderia ter sido diferente, considerando que os outros componentes da mesa foram Nelson Motta (que, imagino, dispensa apresentações) e Fernanda Takai (a vocalista da banda mineira Pato Fu, que lançou um álbum solo só com regravações de Nara Leão).

E os loucos? Bom, estavam na platéia: gente que demora cinco minutos para fazer uma pergunta porque acha que precisa contextualizar e contar a história do pai; gente que afirma que a bossa nova acabou em 1966 e leva um fora do Nelson Motta, que estava lá e viveu a época; gente que fala "grandiloqüência" e "ideologização", mas não consegue fazer uma pergunta interessante; gente que acha que o cinema brasileiro só fala de miséria e de "coisas deprimentes" e que Nelson Rodrigues é "agressivo" e ainda tem coragem de falar isso em voz alta, na frente do Marçal.

No fim das contas, saldo mais que positivo: passei o dia com amigos queridos, assisti a debates bastante interessantes e ganhei autógrafos do Nelson e do Marçal.

No ano que vem, vou de novo.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Pela primeira vez, de novo

Quando eu trabalhava na Livraria Cultura, tinha lá um rapaz que adorava Clarice Lispector. Um monte de gente adora Clarice Lispector, é até uma coisa meio devota, sabe?, de ler os contos como um catecismo e esse rapaz não era diferente.

Então, eu afirmei-perguntei:
"Então, você já leu tudo o que ela escreveu?"

E ele, naturalmente, respondeu:
"Não."

E eu, com aquele ar de como-assim-?, sem entender. Imaginei que, por gostar tanto da autora, ele já tivesse decorado todos os livros dela. Foi quando ele me disse uma das coisas mais esquisitas que já ouvi mas que, estranhamente, tem certa lógica:

"Sabe o que é? Estou economizando a Clarice. A obra dela está pronta e acabada. É perfeitamente possível lê-la de cabo a rabo, quantas vezes eu quiser, na ordem que eu escolher, cronológica, alfabética, randômica, cor da capa. A única coisa que não é possível, após ler a obra toda, e lê-la de novo pela primeira vez. Entende? Como eu posso passar o resto dos meus dias sabendo que não haverá mais nenhum texto dela que eu não tenha lido, sabendo que eu não sentirei mais o desconforto, o arrebatamento, a angústia que a primeira leitura de qualquer conto dela me causa? É isso. Clarice é tão bom que estou economizando para ler durante a vida toda."

Faz sentido? Não sei.

Há autores que adoro, mas de quem ainda não li tudo. Dennis Lehane é um deles, Michael Connely é outro, só para citar dois exemplos. O primeiro porque, sim, de certa forma estou economizando-o para um dia de chuva. O segundo, porque nem tudo já foi traduzido para o português, e também porque acho aqueles pocket books de folha de jornal indecentes de se ler.

Essa longa introdução é para dizer que lembrei-me dessa história porque estou lendo um livro de Agatha Christie de que ouço falar desde a 6a. série, mas que nunca tinha lido: A Mansão Hollow.

Devo, de início, dizer que me espanta como essa senhora ainda consegue me impressionar, mesmo depois de tantos anos de convivência. Conhecemo-nos, Agatha e eu, desde tenra idade (a minha, lógico, tinha eu uns 10 ou 11 anos, calculo) e achei que ela não mais me surpreenderia. Ainda bem que eu estava errada.

Para começar, Hercule Poirot, o personagem mais famoso da velhota, só dá o ar da graça no Capítulo 11 de A Mansão Hollow. Confesso que abri o livro esperando ver o nome dele logo nas primeiras páginas, o que não aconteceu. Continuei lendo, lendo, e nada. Cheguei até a folhear os últimos capítulos para ter certeza de que ele apareceria e só sosseguei quando vi que, lá pela página 200 e pouco, ele indagava qualquer coisa a um mordomo.

Mais calma, passei a prestar atenção na história e o que li me impressionou bastante. Vamos ver se consigo explicar direito o porquê.

John é um médico que trabalha em seu próprio consultório e também em um hospital público. Encontramo-lo animado com o convite para passar o fim de semana na Mansão Hollow, de propriedade de um casal de amigos, Lady Lucy e Lord Henry Angkatell.

A alegria de John, na verdade, deve-se à chance de passar mais tempo com Henrietta, prima de Lady Lucy, por quem John é apaixonado. Detalhe: John é casado com Gerda, uma mulher que passa parágrafos inteiros incapaz de se decidir se deve mandar ou não o pernil de carneiro de volta para o forno, enquanto espera o marido para almoçar.

Gerda é sem-graça, para dizer o mínimo. Não tem vontade ou voz própria, mas esse foi exatamente o motivo pelo qual John se casou com ela. Logo ficamos sabendo que John foi apaixonado por uma mulher maravilhosa, mas que o fez sofrer e empurrou-o para os braços desinteressantes de Gerda.

John não está feliz, mas não sabe como resolver sua situação. Entre Gerda, Henrietta e a lembrança de Veronica, há muito se passando na cabeça do pobre homem.

A história continua, mas o que eu quero destacar é justamente a crise por que passa John e a caracterização das personagens. O que me impressionou não foi a indecisão do médico ou a insipidez da esposa, mas, sim, o fato de que Agatha Christie tenha descrito aspectos tão íntimos e tão ligados à personalidade. Não me lembro de nenhum outro livro em que ela aprofunde tanto a faceta psicológica dos personagens.

Ainda não terminei o livro, mas já gostei. Na verdade, ouso dizer que pouco importa o crime, pouco importa o desvendar do enigma: a história me cativou mesmo sem o suspense.

Festival da Mantiqueira

Neste fim de semana tem o Festival da Mantiqueira - Diálogos com a Literatura, na cidade de São Francisco Xavier, que fica na estrada velha para Campos do Jordão, logo depois de Monteiro Lobato.


Aquela região, aliás, é a que Lobato retratou em Cidades Mortas. Quem conhece por ali, entende o porquê do título. Antes das grandes rodovias, as únicas estradinhas que cortavam o Vale do Paraíba passavam por ali. Taubaté e São José dos Campos, por exemplo, tiveram a sorte de continuarem à margem da Dutra e da Carvalho Pinto, mas lugares como Monteiro Lobato (a cidade) ficaram entrevadas no vale, sem chance de se desenvolver.

É uma pena, porque a estradinha, apesar de cheia de curvas e de ter um buraco aqui e outro acolá, é muito bonitinha. A paisagem seria um clichê de tão bucólica, se não fosse real. Para quem não tem pressa de chegar a Campos do Jordão, vale a pena passear por lá.

Bom, o festival literário começa nesta sexta-feira, dia 30, mas as palestras só rolam no sábado e no domingo. A programação completa está no site do festival.

Eu vou passar o sábado passeando por lá. Às 11h, tem Literatura e Cinema, com Suzana Amaral, Moacyr Scliar e Marçal Aquino (entenderam agora porque faço questão de ir?); às 15h, tem Milton Hatoum e, às 17h, tem Literatura e Bossa Nova, com Nelson Motta, Fernanda Takai e Zuenir Ventura.

Vá, vá, vá. As palestras são grátis, a viagem é gostosa, a comida é boa e, se tudo isso não o animou, a mera perspectiva de passar o dia envolto em ares literários deveria bastar.

Vá, vá, vá. Faça alguma diferente no fim de semana, para variar.

A gente se vê lá.

domingo, 25 de maio de 2008

Novidades sobre a VI FLIP (9)

Neil Gaiman, Ines Pedrosa, Tom Stoppard, David Sedaris... A lista não pára de crescer.

Pena que sou gente grande e não tenho mais férias em julho.