Editora lança selo de literatura feminina
Folha de São Paulo - 19/07/2008
A editora Planeta acaba de lançar no Brasil o selo Essência, inteiramente voltado para a chamada "literatura feminina". Os três primeiros títulos são A rosa do inverno, de Patricia Calbot, Eu pego esse homem, de Valerie Frankel, e O livro secreto do banheiro feminino, de Jo Barrett. Na Espanha, país-sede da Planeta, o selo existe há pouco mais de um ano com o nome de Esencia. No Brasil, o catálogo do selo Essência terá três linhas distintas: romance histórico (histórias de amor ambientadas dos séculos 17 a 19), romance contemporâneo (novamente histórias de amor, aqui com mais humor), e "chick lit" (romances que falam dos altos e baixos na vida amorosa e profissional da jovem mulher urbana). Em breve, o novo selo lançará o site, com mais informações sobre os livros e suas autoras.
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Literatura feminina
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Memórias de uma gueixa
Uma vez falei sobre as coisas que as mulheres tem de fazer para cultivar um relacionamento em um post, confesso, um tanto machista.
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terça-feira, 15 de julho de 2008
Eu acredito em concurso de miss
Quando eu era criança, o concurso de Miss Brasil era transmitido pelo SBT – acho que na época o canal se chamava TVS. Lembro-me de assistir às cerimônias com minhas primas, nas casa de minha avó paterna, de ficar torcendo pela Miss São Paulo, de fazer lista das que achávamos mais bonitas e de ficar pichando as, vamos dizer, menos dotadas de atributos estéticos. Minha prima mais velha poderia, fácil, ter sido miss. Mas eram só sonhos.
O último concurso daqueles tempos a que me lembro de ter assistido foi o de 1986. Eu estava em Belo Horizonte, num quarto de hotel, com meu irmão, minhas duas primas e o pai delas, santo tio Sérgio, que recebera a pesada incumbência de cuidar de nós naquela noite infindável. Horas antes, recebêramos um telefonema de São Paulo: meu avô, pai do meu pai, tivera um enfarte. Eu tinha 11 anos, não sabia o que era enfarte. Sabia que era sério, mas, até aí, o que é sério para uma garota dessa idade? Já era noite, meu pai, minha mãe e minha tia embarcaram em um avião o mais depressa possível e nós seguiríamos de carro, com meu tio, na manhã seguinte. Tentávamos nos distrair com vestidos, trajes típicos, desfiles e respostas sem sentido, mal sabendo que meu avô não resistira ao quinto ataque do coração e já estava morto. Foi o ano em que Deise Nunes foi eleita Miss Brasil. Nunca me esqueci.
Com o tempo, os concursos de miss foram perdendo popularidade e quase desapareceram da programação. Muitos anos depois do quarto em BH, quase vinte, eu estava na casa da praia, onde não tem NET e, se quisermos ver TV, somos condenados a assistir à riquíssima (é sarcasmo, bien entendu) programação de sábado à noite na tv aberta, quando a Bandeirantes anunciou a transmissão do Miss Universo (ou Miss Mundo, ou Miss Beleza Internacional, não me lembro bem). Fiquei radiante! Enfim, os concursos de miss tinham retomado seu charme original.
Não foi sem uma nota de desapontamento que reparei que as misses, apesar de muito bonitas, eram todas muito magrelas, muito peitudas, todas com o nariz perfeito, de dar inveja a Cleópatra. Lógico, o que esperava eu em tempos de frenéticos bisturis e academias escravizantes? Não foi o suficiente, no entanto, para abalar minha alegria de, novamente, assistir aos desfiles de vestidos glamurosos, trajes típicos estilizados e as mesmas respostas sem sentido.
No ano passado, mais uma vez, coloquei-me em frente à TV e me preparei para assistir ao Miss Universo. Conforme a cerimônia avançava, eu torcia por Natália Guimarães e a via chegar cada vez mais perto da coroa. Quando a Miss Brasil ficou entre as cinco finalistas, depois entre as quatro, as três, entre as duas!, eu quase não acreditei. Será que tinha chegado finalmente o dia em que eu veria a coroação de uma Miss Universo brasileira? Eu crescera ouvindo falar em Martha Rocha, Ieda Maria Vargas, Adalgisa Colombo, mas não as tinha visto desfilar, no auge da beleza. Nos segundos antes de o locutor anunciar a vencedora, eu voltei a ter 11 anos. Durou pouco, e minha esperança foi exterminada por uma japonesa feiosa num vestido deslumbrante.
Se alguém quiser (re)ver a causa do meu desconsolo:
Natália Guimarães, estupenda, e a japonesa sem graça
No domingo passado, foi realizada a edição 2008 do Miss Universo. Eu não assisti. Acho que fiquei traumatizada, descrente de que possamos chegar tão perto do cetro cintilante como em 2007. Pode parecer piegas, cafona, mas eu gosto de concurso de miss. Mais: eu acredito neles. Só preciso de um tempo para me recuperar do trauma sofrido no ano passado e me reconciliar com esse evento que, como vocês perceberam, já se tornou parte da minha memória afetiva.
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terça-feira, 1 de julho de 2008
Ele, de novo
Xico, ah, Xico...
A ARTE DA CANTADA PERMANENTE -O REMAKE
A cantada, amigos, é como a revolução de Mao Tse-Tung, tem que ser permanente.
Existem mulheres que a gente canta no jardim da infância para dar o primeiro beijo lá pelos treze, quatorze.
Mas é necessário que a cante sempre, não aquela cantada localizada, neoliberal e objetiva, falo do flerte, do mimo, do regador que faz florescer, como numa canção brega, todos os adjetivos desse mundo.
A cantada de resultado, aquela imediata, é uma chatice, insuportável, se eu fosse mulher reagiria com um tapa de novela mexicana, daqueles que fazem plaft!
A boa cantada é a cantada permanente.
E mais importante ainda depois que rolam as coisas, depois que acontece, aí a cantada vira devoção, oração dos pobres moços a todas elas.
Porque cantar só para uma noitada de sexo é uma pobreza dos diabos, qualquer um animal o faz.
Porque cantar, à vera, é cantar todas e não cantar nenhuma ao mesmo tempo.
Explico: é espalhar pacientemente a devoção a todas as mulheres como quem espalha sementes nos campos de lírios.
Mesmo que elas digam, com aquele riso litografado na covinha do sorriso, que você diz isso para todas.
E claro que para cada uma dizemos uma loa, fazemos uma graça, não repetimos o texto, o lirismo, o floreado.
Porque amamos mesmo as mulheres.
Cantemos indiscriminadamente, e que me perdoe o velho e bom Vinícius de Moraes, mas cantemos sobretudo as ditas feias, esse conceito cruel e abstrato de beleza. Elas merecem, até porque as feias não existem, nunca conheci nenhuma até hoje.
Não por sermos generosos, piedade, ou algo do gênero... É que a dita feia, quando bem cantada, vira a superfêmea, para lembrar a bela pornochanchada com a Vera Fischer.
A cantada permanente e indiscriminada é irresistível, quando você menos espera, acontece o que você tanto sonhava.
Sim, tem que ter o cuidado para não ser simplesmente um chato que baba diante do melhor dos espetáculos, a existência das mulheres.
Ter que cantar sempre a mesma mulher e parecer que está apenas de passagem, que o estribilho é sempre novo, nada de larararás que mais parecem refrões do Sullivan e do Massadas, lembram dessa dupla de músicas chicletosas?
Ah, digamos que você cantou a Sônia Braga ainda naqueles tempos em que Gabriela subiu com aquele vestidinho no telhado –a cena mais quente da teledramaturgia brasileira até hoje- e e continuou cantando, sempre, sutil e sempre, e agora ela, passados tantos calendários, se comove e resolve recompensá-lo! Vai ser lindo do mesmo jeito, não acha? Na tela do nosso cocoruto vai passar o videotape de todos os desejos antigos e despejados no ralo pela morena cravo & canela.
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sexta-feira, 20 de junho de 2008
O que as mulheres esperam do amor
É segunda-feira, na Livraria Martins Fontes (Av. Paulista 509, esquina com a R. Manoel da Nóbrega, ao lado do Metrô Brigadeiro), a conversa sobre as mulheres e o amor.
O assunto me interessa muito, observadora da psiquê humana que pretendo ser.
Ontem, após o bate-papo com Nelson de Oliveira na Livraria Sobrado, eu estava no Bar do Giba com duas das mulheres que mais respeito neste mundo: minha mãe e minha madrinha.
O que conversávamos era justamente o que quer a mulher de hoje. Longe de nós querermos ser especialistas no assunto. Apenas trocávamos impressões sobre o que vemos por aí.
Todo mundo quer um amor. Ponto. Pacífico, aliás. Nunca ouvi ninguém dizer com convicção que quer/gosta/pretende ficar sozinho. Lógico que, às vezes, o outro é tão détraqué que é melhor ficar sozinha, mas essa é outra história. Muito bem. Então, você se esforça, dá a cara para bater, faz a trezena de Santo Antônio e, finalmente, o seu amor chega e você fica toda feliz. E depois?
Depois, você não sabe o que fazer. Passou tanto tempo se preparando para o dia da chegada do amor, mas não pensou no que fazer no dia seguinte. Gente, relacionamento dá trabalho, requer dedicação (não se iludam, não tive tantos homens assim, não sou nenhuma expert, falo apenas sobre o que vivencio).
Tem de mimar o bofe, tem de se arrumar. Tem de aguentar os gases do fofo, os porres do fofo. Tem de ser simpática com a mãe do amado, com o chefe, com a secretária, com a estagiária. Tem de agüentar o churrasco com os amigos no fim de semana, o jogo de futebol na quarta-feira, o happy hour com o departamento comercial na segunda-feira.
Tem de dar duro no trabalho. Tem de suportar as manias do chefe, as broncas, as amantes do chefe. Tem de sorrir para a gerente de Compras, para a tia do café, para o contínuo, para a assessora de Imprensa, para o manobrista do estacionamento.
Tem de ir ao supermercado, à farmácia, ao sacolão, posto de gasolina, à floricultura. Comprar orgânicos, reciclar lixo, economizar água.
O que eu acho (e já vou parando o texto por aqui antes que me atirem pedras por ser machista ou me mandem queimar sutiãs e me tornar feminista) é que não dá para ter tudo. Ou melhor, não dá para cuidar de tudo com a mesma dedicação. Não dá para ser executiva top/esposa amorosa/mãe exemplar, tudo ao mesmo tempo, tirando nota 10 com louvor.
Mulheres como a minha mãe e minha madrinha fizeram uma escolha: família em lugar da carreira. Se estavam certas ou não, eu não sei. O que sei é que elas são tão bem-sucedidas quanto o Steve Jobs. Pode parecer radical, mas, de todas as mulheres entre 30 e 45 anos que conheço, eu conto nos dedos da mão (esquerda?) do Lula quantas têm o respeito dos filhos, a admiração do marido e a auto-estima no lugar certo.
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segunda-feira, 5 de maio de 2008
Filho da mãe
A historiadora Mary del Priore, em coluna publicada no Suplemento Feminino do Estadão de ontem, comenta o caso Nardoni. Do texto, intitulado Carta às mães de dois monstros, que começa falando do indiciamento do pai e da madrasta da menina, destaco os seguintes trechos:
Penso, contudo, em suas mães. Pergunto-me se ambas têm consciência dos monstros que trouxeram ao mundo. Como será acordar, todas as manhãs, ouvindo no íntimo a voz de milhares de cidadãos pedindo justiça por um crime que revirou as entranhas de tanta gente? Como será colocar as cabeças sobre o travesseiro, sabendo que pariram duas anomalias? Como foi possível ensiná-los a mentir com tamanha desfaçatez?[...] Quem são essas mães?
Quero saber seus nomes. Quero ver seus rostos, de olhos secos e almas ressequidas. Quero entender como é possível consentir e calar sobre o assassinato de uma neta. Quero entender seu silêncio pesado, opressivo e inquietante.
Que seu luto seja o arrependimento eterno. Que incorporem a culpa de seus filhos para que seus atos infames não se repitam mais. Que exibam seu passado familiar, para que cidadãos de bem possam se vacinar contra ele.
Que mães são essas? Por que não assumem suas responsabilidades? A dívida de seus filhos com a sociedade lhes será cobrada de uma maneira ou de outra. Se o papel das mães é o de dar leite e mel – como queria o filósofo – estas alimentaram seus filhos com fel. Choca saber que é possível criá-los totalmente impermeáveis a valores morais. Que é plausível aceitá-los como mentirosos patológicos, impermeáveis à preocupação com a verdade. Que é possível conviver com viciados em falsidades, sem corrigi-los e velando sobre seus erros. [...] Essas mulheres não têm palavra. São mães mudas, escondidas pelo silêncio culpado e, pior, cegas. A perda de respeito pela verdade corrói tudo o que as liga ao restante da sociedade.
Mas cabe às mães impedir catástrofes assim. Quando elas deixam passar muitas oportunidades de serem honestas e preocupadas com a verdade de suas próprias relações, não conseguem mais trazer os membros de sua família a uma situação de confiança mútua. [...] Diante da neutralidade destas mães reside o obsceno, a banalização do mal.
Relutei muito em comentar o assunto aqui no blog porque a polêmica criada pelo fato em si e fomentada pela imprensa já tem tomado bastante espaço e tempo de nosso cotidiano. No entanto, depois de ler esse texto de veia acusatória, não pude mais me calar.
Concordo em parte com a historiadora. Também acho que as mães são as maiores responsáveis pelo comportamento dos filhos, por ensinar que devem respeitar o próximo, pelos valores éticos e morais que devem passar. Em diversas culturas, como a coreana, por exemplo, o mau comportamento de um filho é visto como falha dos pais, é deles que se fala mal, são eles que recebem os comentários negativos.
No entanto, não acho que se possa atribuir toda a maldade de um filho à sua mãe. Há um limite na influência que uma mãe tem sobre o filho. Cria-se os filhos para o mundo, costuma se dizer, e é o mundo quem exerce grande influência negativa sobre uma pessoa. Concordo que o caráter, os princípios e os valores são moldados e estabelecidos em casa, a partir de ensinamentos dos pais, mas passada certa fase há muito pouco que uma mãe pode fazer.
Eu costumo dizer que uma mãe pode erguer um filho, mas também pode estragá-lo de vez. Muitos são os traumas por que a figura materna é responsável, inúmeros são os desvios de comportamento que podem ser atribuídos à uma mãe amalucada. Ainda assim, não acho que uma mãe, em sã consciência, crie os filhos para serem mentirosos, salafrários, magarefes, biltres, canalhas, desonestos, pulhas, trapaceiros, pilantras, ladrões, estelionatários, assassinos. Acho que isso acontece quando o filho adquire certa liberdade de decisão e certa independência de atitudes, mas não sabe o que fazer com as novas ferramentas. Não sei se foi Marx ou Sartre quem disse que o homem é fruto do meio, mas acho que é sim.
Também acho que falta um pronunciamento das mães de Alexandre e Anna Carolina, mas penso que é muito exagerado clamar aos quatro ventos que tudo o que aconteceu é culpa delas.
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sábado, 8 de março de 2008
A mulher e a liberdade de criar
A room of our own
Em outubro de 1928, Virginia Woolf foi convidada para dar uma série de palestras em duas faculdades femininas da Cambridge University. O tema era “Women and Fiction”, Mulheres e Ficção. Nessa época, Virginia já havia publicado os romances Mrs. Dalloway (1925) e Orlando (1928). Os livros saíram pela Hogarth Press, editora que ela fundara em parceria com o marido, Leonard Woolf, em 1917. A escritora inglesa era fascinada por Dostoievski. Inspirada nos romances russos, usou tom pesado para, em suas narrativas, fazer reflexões feministas, ora de forma linear – como em Noite e dia (Night and Day, 1919) –, ora bastante introspectivas – como em Mrs. Dalloway, Passeio ao farol (To the Lighthouse, 1927) e As ondas (The Waves, 1931).O teor das palestras de Cambridge foi revisado, expandido e publicado como livro em 1929, com o nome A Room of One’s Own. Foi publicado no Brasil só em 1985, pela Nova Fronteira, com o título Um teto todo seu (trad. Vera Ribeiro).
Ao receber o convite da universidade, Virginia pensou em falar uma coisa e outra sobre Jane Austen, George Eliot e Elizabeth Gaskell, nomes importantes da ficção feminina inglesa. À medida que ponderava e considerava o assunto, porém, percebeu que, mais importante do que falar sobre as obras de suas antecessoras, era discutir a condição da mulher escritora.
Virginia afirma que toda mulher precisa de dinheiro e um quarto só seu (daí o título do livro), se quiser ter liberdade para criar e escrever. Para comprovar sua tese, Virginia desenvolve seu raciocínio por meio de uma personagem fictícia. No livro, a narradora assume a difícil tarefa de analisar o processo criativo das novelistas do século 19. Como as informações disponíveis são poucas, ela decide reconstruir esse cotidiano por si mesma, chegando até a imaginar uma irmã fictícia para o maior escritor inglês. Judith Shakespeare seria tão imaginativa e competente quanto o irmão, mas, por nunca ter conseguido espaço para expressar sua genialidade, matou-se de desgosto.
A expressão “um quarto só seu” ficou muito conhecida e transformou-se em lugar-comum. Virginia usa o quarto como símbolo de questões mais importantes, como privacidade, tempo livre e independência financeira. O que ela está dizendo é que, enquanto a mulher não tiver um quarto particular, algo de que os homens da época de Woolf desfrutavam, sempre será uma cidadã de segunda classe e sua literatura também será vista como tal.
Virginia também diz que os homens subjugam as mulheres, a fim de preservarem sua superioridade; a escrita deles é, portanto, agressiva em relação às mulheres. Elas, por sua vez, inseguras quanto ao seu status social, usam a literatura para reagir. Dessa forma, Woolf afirma que os dois são prejudicados, uma vez que o objeto da literatura deve ser o mundo, e não o próprio escritor.
A Room of One’s Own é um dos mais importantes trabalhos de crítica literária do ponto de vista feminista; certamente, é o pioneiro. É citado em inúmeros estudos e até dá nome a uma livraria em Wisconsin. A escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941), por sua vez, inspirou a peça de Edward Albee, Quem tem medo de Virginia Woolf? (Who’s Afraid of Virginia Woolf?, 1962), e o romance As horas (The hours, 1998), de Michael Cunningham.
Meu desejo é que não nos esqueçamos das mulheres que abriram o caminho para que nós pudéssemos estar aqui, hoje, escrevendo livremente; que nos lembremos do sacrifício que fizeram e não deixemos nossa criatividade ser tolhida; e que comemoremos o sucesso de todas elas, lendo, relendo e divulgando suas obras.
Para ir além:
Texto integral de A Room of One’s Own (em inglês)
Guia de leitura - Spark Notes
Guia de leitura - Grade Saver
[O texto acima é uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher e faz parte de uma postagem coletiva, organizada pela Lys e pela Meire. Para ler os outros textos, clique aqui.]
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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
Chick Lit, ou literatura de parvas
Acho que eu tinha 24 anos quando li O diário de Bridget Jones, de Helen Fielding, pela primeira vez. Eu nunca tinha ouvido falar nesse livro e comprei porque a capa, assim como a primeira página, me agradou. Não me lembro muito bem do ano – naquela época, eu não anotava o ano da compra ou guardava o cupom fiscal, como faço hoje –, mas comprei o livro no aeroporto de Congonhas, antes de uma viagem de trabalho para Araçatuba. Lembro-me de ter lido o livro inteiro durante os vôos de ida e volta e de ter morrido de rir, parecendo louca no avião. Eram tempos pré-Bin Laden, razão pela qual não fui presa, não fui revistada e ninguém achou que eu era realmente louca.
Durante uns três ou quatro anos, reli Bridget Jones e procurei outros livros do mesmo gênero, romances despretensiosos, divertidos e descartáveis. Nessa minha fase chick lit (o significado da expressão, eu aprendi tempo depois, quando trabalhava na Livraria Cultura: significa literatura para chicks, para garotas), li India Knight, Sophie Kinsella, Marian Keyes, Olívia Goldsmith, Sarah Dunn, Carly Alexander. Lia em inglês ou em português, tanto fazia. Acabei por me tornar quase uma expert no assunto: clientes, e até os outros vendedores, pediam dicas. A fase passou, mas dela restaram quase todos os livros, aconchegados na minha estante. Dentre eles, está Tasha Harris abre o jogo, de Jane Green.
Sempre achei que Tasha Harris era muito melhor que Bridget Jones. Como mulher, quero dizer. Como personagem mulher, quero dizer. Tasha é mais decidida, não é avoada e apatetada como Bridget. Sempre achei que deveriam ter feito o filme de Tasha em vez de Bridget, mas eu era uma voz dissonante da multidão. Bridget se tornara moda, mania, fixação: de repente, todas só queriam ler livros que fossem como O diário de Bridget Jones, todas queriam descobrir a personagem típica da jovem-inglesa-em-busca-de-um-namorado que iria tomar o lugar de Bridget. Não sei se encontraram, acabei me desinteressando do gênero antes que isso acontecesse.
Daquela época, porém, guardo boas recordações e uma delas, em especial, gostaria de compartilhar com vocês. Além de Tasha Harris, li Não há coincidências, da escritora portuguesa Margarida Rebelo Pinto. O enredo não traz muitas novidades, já que fala sobre uma mulher jovem às voltas com namorados, empregos e outros bichos. O mérito do livro, então, está na linguagem. Troca-se "cara" por "gajo", "garota" por "miúda", "metrô" por "comboio". Sabiamente, a editora optou por manter todas as palavras e gírias como no original, sem adaptações.
Como é gostoso ler o português de Portugal em uma história contemporânea!
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terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
Mulher: substantivo, feminino, plural
Não sou panfletária e não sou feminista, mas às vezes me revolto com certas notícias que leio e que mostram o sofrimento de algumas mulheres. Por isso, resolvi aderir ao projeto.
Quem quiser participar, é só escrever para Lys ou Meiroca.
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quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Comichão
Ontem de manhã, eu estava na sala de espera de um laboratório. Em volta, mulheres e mais mulheres esperavam ser chamadas, assistindo Ana Maria Braga na enorme televisão pendurada na parede.
Olhei em torno e a única revista disponível era, pasmem, a Homem Vogue. Refeita do susto de encontrar uma publicação destinada a um descolado público masculino em uma sala de espera lotada de mulheres, apanhei a revista e comecei a folheá-la. E foi então que eu o vi. Ou melhor, li.
Xico Sá, para quem morou em Vênus até a semana passada, é jornalista (escreve para a Folha e a Trip, por exemplo), tem um blog ótimo e é macho. Não, ele não é só simplesmente um indivíduo do sexo masculino. Ele é advogado de causa do macho, pregador exultante das maravilhosas diferenças entre o homem e a mulher, militante incansável da idolatria às mulheres. Ele é o autor de Modos de macho & modinhas de fêmea e Catecismos de devoções, intimidades & pornografias. Galanteios, lisonjas, elogios: as palavras de Xico são o que há de sexy nessa vida.
Devo confessar que o texto que eu li no magazine da sala de espera do laboratório despertou em mim uma comichãozinha. Ali, naquele lugar insólito e insípido, eu me perdi em fantasias provocadas pelas palavras do Xico. Não sei quantas vezes chamaram meu nome antes que eu acordasse dos meus devaneios com um sorriso no rosto.
Divido essa experiência com vocês:
DA ARTE DE PEDIR
Uma das maiores virtudes de uma fêmea é arte de pedir.
Como elas pedem gostoso.
Como elas são boas nisso.
Resistir, quem há de?
Um simples “posso pegar essa cadeira, moço?” vira um épico. É o jeito de pedir, o ritmo da interrogação, a certeza de um “sim” estampado na covinha do sorriso.
Pede que eu dou.
Pede todas as jóias da Tiffany’s, minha bonequinha de luxo!
Estou pedindo: pede!
Eu imploro, eu lhe peço todos os seus pedidos mais difíceis.
Pede a bolsa de cerejas da Louis Vuiton, pede o shopping inteiro, pede a Daslu.
Pede que compro nem que seja no camelô.
Não me pede nada simples, faz favor.
Já que vai pedir, que peça alto. Você merece.
Como é lindo uma mulher pedindo o impossível, o que não está ao alcance, o que não está dentro das nossas posses.
Podemos não ter onde cair morto, mas damos um jeito, um truque, um cheque sem fundos.
Até aqueles pedidos silenciosos, quando amarra a fitinha do Senhor do Bonfim ou de Nossa Senhora do Carmo no braço, são lindamente barulhentos.
Homem que é homem vira o gênio da lâmpada diante de uma mulher que pede o impossível.
Ah, quero o batom vermelho dos teus pedidos mais obscenos.
Quero o gloss renovado de todas as vezes que me pede para fazer um pedido, assim, quase sussurrando no ouvido: “Amor, posso te pedir uma coisa? Posso mesmo?”
Um castelo na Inglaterra?
Sim, eu dou na hora.
Sim, eu opero o milagre.
Como no pára-choque, o que você pede chorando que não faço sorrindo?!
Pede, benzinho, pede tudo.
Que eu largue a boemia, pare de beber e me regenere???
Pede, minha nega, que o amor tudo pode.
Mesmo as que têm mais poder de posse que todos nós não escapa de um belo pedido.
Com estas, as mais poderosas, tem ainda mais graça. Elas pedem só por esporte, o que não lhes compromete a pose e muito menos a independência.
Não é questão de poder ou dinheiro.
O charme e o que importa é o pedido em si, o romantismo que há guardado no ato.
Os melhores cremes da Lancôme? Vou a Paris agora. Estou pronto.
Eu lhe peço: me pede.
Não pede mimos baratos, pede atenção, por exemplo, essa mercadoria tão cara ao mundo das moças. Pede, sou o senhor de todas as tuas demandas.
Esse texto foi publicado originalmente aqui. Como eu não sabia se podia reproduzi-lo, pedi permissão ao Xico. Olha o que ele respondeu (29/11/07, 8h49):
ô querida, pode publicar sim o texto. nao somente este, mas qualquer um outro de minha autoria é de livre circulação. pode republicar sem pedir permissão.
beijo,pendurei o teu blog aqui nos meus favoritos.
xico sa
Fofo.
***
Atualização (19/12/2007): Fui ao lançamento do último livro do Xico, Caballeros solitários rumo ao sol poente, na Livraria da Vila, no último dia 12. Xico, galante como sempre, abriu um sorriso gostoso quando me apresentei e fez essa dedicatória:
Para Bia, que chegou linda e com vestido idem! Beijo, Xico Sá
Fofo, de novo.
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segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Não sou feminista.
Dito isso, acho que posso extravasar minha indignação sem medo de ser rotulada. Eu já chamei a atenção para o fato de as mulheres serem oprimidas pela dor-de-cotovelo masculina aqui e aqui. Na semana que passou, outro fato demonstrou o desprezo com que a maioria das mulheres é tratada.
Em Abaetetuba (PA), uma jovem de 15 anos passou 30 dias presa em uma cela comum, na companhia de 20 homens. A revista Época desta semana diz, na seção Fala Brasil, que ela foi agredida e obrigada a fazer sexo em troca de comida. Não posso nem imaginar as barbáries a que essa moça foi submetida. É difícil esperar que ela consiga superar o trauma e seguir em frente com sua vida, mesmo depois de cumprir a pena por tentativa de furto, castigo que nem de longe se compara à provação que ela já enfrentou na cadeia.
É óbvio que as mulheres sofrem mais abusos do que os homens. Se não fosse assim, não haveria delegacias especializadas em anotar cada tabefe, cada bofetada, cada soco desferido contra uma mulher.
As humilhações de que as mulheres são vítimas são constantes. Muitas delas, são tão corriqueiras que nem percebemos quando acontecem. A linha que separa o elogio da ofensa é tão débil que às vezes não sabemos quando foi ultrapassada. É elogio recebermos uma cantada em uma boate mas é humilhante quando o segurança da mesma boate não tira os olhos dos seus peitos? É humilhante quando passam a mão na sua bunda no ônibus mas é elogio quando o bonitão do escritório faz a mesma coisa na sala de reuniões?
Eu não acho que homens e mulheres têm de ser iguais. Acho saudável que todos nós cultivemos nossas diferenças porque só assim saberemos apreciar o que o outro tem de interessante. Mas termos dois pesos e duas medidas é tão prejudicial quanto nos calarmos frente a barbaridades como a que aconteceu em Abaetetuba.
Em tempo: o jornal Metro de hoje noticia na p.4 que a jovem de 15 anos teve de sair do estado do Pará por temer pela própria segurança.
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
Os brutos também amam - parte 3
A violência contra a mulher já foi assunto em um outro post, mas sou obrigada a retomá-lo.
Evelyn, 18 anos, foi morta a tiros pelo ex-namorado Gilmar, após ser mantida refém em uma farmácia na cidade de Praia Grande, SP, por mais de onze horas. Ele se matou em seguida. O estrupício do ex-namorado saiu da cadeia em agosto. Adivinha porque ele foi preso: sim!!!, caro leitor, no último 13 de junho o mesmo fulano manteve a mesma moça refém por cinco horas.
Já disse, mas repito: covardia.
Quem quiser ler mais, clique aqui para o resumo do Globo Online sobre o caso.
segunda-feira, 28 de agosto de 2006
Wonder Woman
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