Ontem de manhã, eu estava na sala de espera de um laboratório. Em volta, mulheres e mais mulheres esperavam ser chamadas, assistindo Ana Maria Braga na enorme televisão pendurada na parede.
Olhei em torno e a única revista disponível era, pasmem, a Homem Vogue. Refeita do susto de encontrar uma publicação destinada a um descolado público masculino em uma sala de espera lotada de mulheres, apanhei a revista e comecei a folheá-la. E foi então que eu o vi. Ou melhor, li.
Xico Sá, para quem morou em Vênus até a semana passada, é jornalista (escreve para a Folha e a Trip, por exemplo), tem um blog ótimo e é macho. Não, ele não é só simplesmente um indivíduo do sexo masculino. Ele é advogado de causa do macho, pregador exultante das maravilhosas diferenças entre o homem e a mulher, militante incansável da idolatria às mulheres. Ele é o autor de Modos de macho & modinhas de fêmea e Catecismos de devoções, intimidades & pornografias. Galanteios, lisonjas, elogios: as palavras de Xico são o que há de sexy nessa vida.
Devo confessar que o texto que eu li no magazine da sala de espera do laboratório despertou em mim uma comichãozinha. Ali, naquele lugar insólito e insípido, eu me perdi em fantasias provocadas pelas palavras do Xico. Não sei quantas vezes chamaram meu nome antes que eu acordasse dos meus devaneios com um sorriso no rosto.
Divido essa experiência com vocês:
DA ARTE DE PEDIR
Uma das maiores virtudes de uma fêmea é arte de pedir.
Como elas pedem gostoso.
Como elas são boas nisso.
Resistir, quem há de?
Um simples “posso pegar essa cadeira, moço?” vira um épico. É o jeito de pedir, o ritmo da interrogação, a certeza de um “sim” estampado na covinha do sorriso.
Pede que eu dou.
Pede todas as jóias da Tiffany’s, minha bonequinha de luxo!
Estou pedindo: pede!
Eu imploro, eu lhe peço todos os seus pedidos mais difíceis.
Pede a bolsa de cerejas da Louis Vuiton, pede o shopping inteiro, pede a Daslu.
Pede que compro nem que seja no camelô.
Não me pede nada simples, faz favor.
Já que vai pedir, que peça alto. Você merece.
Como é lindo uma mulher pedindo o impossível, o que não está ao alcance, o que não está dentro das nossas posses.
Podemos não ter onde cair morto, mas damos um jeito, um truque, um cheque sem fundos.
Até aqueles pedidos silenciosos, quando amarra a fitinha do Senhor do Bonfim ou de Nossa Senhora do Carmo no braço, são lindamente barulhentos.
Homem que é homem vira o gênio da lâmpada diante de uma mulher que pede o impossível.
Ah, quero o batom vermelho dos teus pedidos mais obscenos.
Quero o gloss renovado de todas as vezes que me pede para fazer um pedido, assim, quase sussurrando no ouvido: “Amor, posso te pedir uma coisa? Posso mesmo?”
Um castelo na Inglaterra?
Sim, eu dou na hora.
Sim, eu opero o milagre.
Como no pára-choque, o que você pede chorando que não faço sorrindo?!
Pede, benzinho, pede tudo.
Que eu largue a boemia, pare de beber e me regenere???
Pede, minha nega, que o amor tudo pode.
Mesmo as que têm mais poder de posse que todos nós não escapa de um belo pedido.
Com estas, as mais poderosas, tem ainda mais graça. Elas pedem só por esporte, o que não lhes compromete a pose e muito menos a independência.
Não é questão de poder ou dinheiro.
O charme e o que importa é o pedido em si, o romantismo que há guardado no ato.
Os melhores cremes da Lancôme? Vou a Paris agora. Estou pronto.
Eu lhe peço: me pede.
Não pede mimos baratos, pede atenção, por exemplo, essa mercadoria tão cara ao mundo das moças. Pede, sou o senhor de todas as tuas demandas.
Esse texto foi publicado originalmente aqui. Como eu não sabia se podia reproduzi-lo, pedi permissão ao Xico. Olha o que ele respondeu (29/11/07, 8h49):
ô querida, pode publicar sim o texto. nao somente este, mas qualquer um outro de minha autoria é de livre circulação. pode republicar sem pedir permissão.
beijo,pendurei o teu blog aqui nos meus favoritos.
xico sa
Fofo.
***
Atualização (19/12/2007): Fui ao lançamento do último livro do Xico, Caballeros solitários rumo ao sol poente, na Livraria da Vila, no último dia 12. Xico, galante como sempre, abriu um sorriso gostoso quando me apresentei e fez essa dedicatória:
Para Bia, que chegou linda e com vestido idem! Beijo, Xico Sá
Fofo, de novo.
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Comichão
Postado por Bia às 10:31
Tartatags: amor, crônicas, mulheres, relacionamentos
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