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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Todo fim é um recomeço

Todo mundo que sabe que a vida se dá em ciclos, não é?

Houve um tempo em que eu precisava escrever sobre o que acontecia; hoje prefiro experimentar cada um desses acontecimentos com atenção e intensidade. Por estar dedicada a simplesmente viver, e porque meu poder de concentração e minha memória não dão conta de fazer muitas coisas ao mesmo tempo, este blog acabou ficando em segundo plano.

Na verdade, tudo tem acontecido tão rápido que, mesmo que eu pensasse em relatar alguma curiosidade do cotidiano, manifestar minha incredulidade diante de algum fato ou externar meus pensamentos, quando finalmente me detinha na frente do computador para escrever, o timing já se fora.

O blog continuará no ar para quem quiser passear pelos meus escritos de outrora. Para quem se interessar sobre o que ando fazendo agora, o destino é outro: http://bianunesdesousa.blogspot.com/

Antes de me despedir, ouso deixar uma última lição de moral: Descomplique. Seja frugal. Seja feliz.

Obrigada a todos os leitores pelos comentários e pelo carinho.

Beijos da Bia

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010



Leio no caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo, uma entrevista com Martin Scorsese acerca de seu novo filme, A Ilha do Medo (Shutter Island), exibido fora de competição no Festival de Berlim.

Ok, é interessante saber as influências do cineasta e conhecer algumas (duas) histórias pessoais, mas a matéria é bem fraquinha. E o pior: ao falar do filme, a repórter simplesmente se esqueceu de dizer que é uma adaptação do excepcional thriller psicológico Paciente 67, escrito por Dennis Lehane, autor de, entre outros, Sobre Meninos e Lobos e Gone, Baby, Gone – este último transformado no filme Medo da Verdade pelo canastrão Ben Affleck, que, ainda bem, deixou o papel principal para seu irmão, Casey, muito mais competente.

Custava a moça se informar melhor ou, pelo menos, dar o devido crédito? Scorsese é bom, muito bom, mas nem ele seria capaz de fazer o filme que fez se não fosse Lehane. Tão, ou mais, importante quanto a estética do longa, é citar sua origem literária.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Castle, nova série do AXN


Assisti ontem ao episódio de estreia de Castle, nova série de TV do AXN. Adorei. Além de o protagonista ser um escritor best-seller de literatura policial, houve a participação especial de dois respeitados autores do gênero: James Patterson e Stephen J. Cannell. O jeito como eles discutiam a investigação do crime foi muito bom, praticamente metalinguistico. Sei que outros cameos virão, incluindo um de Michael Connelly, o que só me deixa mais empolgada para acompanhar a série.

Para quem se interessou, anote: Castle, quartas às 22h, no AXN.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Copa de Literatura Brasileira 2009

Saíram os nomes dos participantes da próxima Copa de Literatura Brasileira. Mais sobre esse projeto você fica sabendo aqui e meus comentários sobre os livros escolhidos estão aqui.

Que comece o espetáculo!

terça-feira, 14 de julho de 2009

Tempos difíceis

Redes de livrarias vivem período de expansão
Agência Estado - 10/07/09

De um lado, a Livraria Cultura abre filial na Daslu e marca presença na Casa Cor; a Livraria da Vila continua a loja oficial da Flip; a Saraiva tem Starbucks dentro de suas megastores, e a Laselva só oferece os Mais Vendidos e Autoajuda nos aeroportos.

De outro, centenas de municípios brasileiros não têm livrarias; dezenas de livrarias independentes não têm poder de fogo para negociar com as editoras e oferecer preços competitivos, e livrarias especializadas como a Mille Foglie e a Livraria do Crime sucumbem diante dessa tendência de lojas gigantescas que lucram muito mais com lápis, caneca, pôsteres do High School Musical e cafés expresso do que com livros.

É por isso que lugares como a Livraria Sobrado, em Moema, ou a Realejo Livros, em Santos, merecem a sua visita e o seu prestígio.

Faça a sua parte.

terça-feira, 30 de junho de 2009

3 coisas legais que vi hoje na internet

1) Bookjobs.com
Site que reúne oportunidades de estágio e emprego no mercado editorial norte-americano. Pena que é só lá, pena que aqui não tem nada tão completo, pena que as vagas sejam tão escassas para o mercado nacional.

2) Penguin 52 books
A editora britânica indica 52 livros para ser lidos em 2009 e deixar o leitor healthy, wealthy and wise. Poderia ter sido uma das minhas resoluções de Ano Novo, mas, dadas as circunstâncias, teria que ser de Meio Ano...

3) Julie and Julia Bookseller Contest
A Random House, editora americana do ótimo Julie & Julia, de Julie Powell, vai promover a partir de 14 de julho um concurso para premiar a melhor vitrine de livraria que utilize esse livro e mais o My Life in France e o Mastering the Art of French Cooking, ambos da Julia Child. Tudo por causa da estreia do filme com a Amy Adams e a Meryl Streep.
Para quem não conhece, Julia Child foi um chef de cozinha da TV, uma espécie de Ofélia americana. No Mastering..., ela ensina tudo sobre a culinária francesa e o livro é item obrigatório em todas as cozinhas de Miami ao Maine, de NY a LA. Julie Powell resolveu cozinhar todas as 524 receitas do livro e contar a experiência em um blog. O blog virou livro, o livro virou filme. No site do concurso tem o trailer.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Autores promovem autores

Do Louisville Courier-Journal:

After a reading yesterday at Carmichael's Bookstore, Louisville, KY, David Sedaris "offered first book-signing privileges to attendees who would purchase the store's five total copies of two of Sedaris' favorite books, Lazarus Project by Bosnian-born writer Aleksandar Hemon and No One Belongs Here More Than You by Miranda July".

Simpático, não?

Se um dia eu tiver a oportunidade de fazer o mesmo, certamente escolherei Cabeça a Prêmio, de Marçal Aquino.

sábado, 20 de junho de 2009

Por onde ando

Quem ainda não perdeu a mania de acessar este blog (obrigada pela insistência, people!) notou que há tempos ele não recebe atualizações. Não é que eu tenha deixado de escrever; o que aconteceu é que minha produção tem se destinado a outras paragens.

Por exemplo, tenho feito resenhas e artigos para o Homem Nerd, site que vocês já conhecem ou pelo menos ouviram falar.

Acompanhei o Festival Literário da Mantiqueira, que foi realizado no fim de maio, e escrevi minhas impressões no blog do HN. Talvez eu tenha a oportunidade de fazer o mesmo na Flip em julho, vamos ver, tomara que sim.

Reuni em um blog separado todos os textos que publiquei na internet até agora. A intenção é torná-lo uma ferramenta para divulgar meu trabalho.

Rendi-me também ao Twitter, mas vocês não precisam me seguir (embora isso seja um prazer!). Quem quiser pode acompanhar aqui o que posto lá: tem um quadro à direita em que aparecem todas as minhas twittadas.

Por enquanto, é isso.

sábado, 31 de janeiro de 2009

A escrita de mim 09

Comecei aqui a publicação de alguns textos que escrevi quando estava no colegial. A Suzi, amiga desde antes daquela época, comentou aqui que foi um tempo em que escrevíamos muito e provavelmente foi quando produzimos alguns de nossos melhores textos.

Pois bem. Dando continuidade, aí vai mais um. Eu tinha 15 anos quando escrevi.

***

Podre

Não me lembro de como tudo começou. Quando acordei, estava junto com as outras, largadas, dopadas e jogadas num canto. A última coisa de que me lembro era a minha casa. Estava lá com minhas irmãs quando fui arrancada por uma mulher de porte esbelto e elegante, que me levou para um lugar distante, frio e sombrio. Depois, minha mente permaneceu como que desligada do mundo, e acordei só agora.


Estou junto com outras que, agora reparo melhor, estão saudáveis, coradas. Concluo que eu sou a única doente. Por que será que estou no meio delas? Minha mente está confusa e não consigo pensar. Adormeço.

[...]

Agora estou sendo levada para um outro lugar, mais alegre e bem arrumado. Uma outra mulher me pega e, sem motivo, me dá uma mordida.

Ela ainda me segura, mas no instante seguinte cai, me jogando longe.

Algumas horas depois, os Anões chegam e encontram Branca de Neve desmaiada. Na correria de socorrê-la, sou pisoteada e o veneno dentro de mim escorre pelas frestas do assoalho. A última imagem na minha mente foi a lembrança daquela bruxa velha que me envenenou.

(1990)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Histórias de Bia (3)

Depois que eu desliguei o telefone, meu mundo caiu.

Meu filho de um ano e meio dormia no carrinho e, à minha volta, as mulheres que carregavam sacolas de marca contendo roupas descartáveis não tinham ideia do que acabara de ocorrer, embora todas elas, aposto, dedicassem vários minutos de seus dias vazios e suburbanos a sonhar com uma ligação como a que eu recebera.

A voz dele, muda nos últimos 10 anos, ainda parece saída de um personagem de desenho animado e a impressão de que do outro lado da linha poderia estar alguém como o Patolino ou o Mickey não diminuiu a onda de tesão que, como um tapa, acordou meu corpo.

Não consegui contar a verdade, porém. De todos os dias de todos os anos em que estivemos separados, ele escolheu hoje, justo hoje, para, tal Lázaro, ressurgir das cinzas de um relacionamento que eu julgava enterrado em um passado do qual eu não tenho orgulho nenhum. Hoje, justo hoje, o dia do meu aniversário de casamento, minhas bodas, como o fotógrafo da revista fez questão de nomear quando me ligou pedindo permissão para cobrir a festa.

Ele disse que queria me ver, pediu que eu o encontrasse mais tarde naquele café do centro da cidade. Eu disse que iria, que ele me esperasse. Falei que seria ótimo revê-lo, a única coisa que não era mentira.

A verdade ele vai ficar sabendo pelas bancas de jornais amanhã.

Rio de Janeiro, 2007

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Curso de literatura com Ricardo Lísias (3)

Ricardo Lísias, autor de quem já falei aqui, abriu nova turma para o curso de literatura que ele inaugurou no ano passado.

Para quem se interessar, seguem as informações:

PANORAMA DA LITERATURA MODERNA E CONTEMPORÂNEA

Fevereiro
Dia 02, Charles Baudelaire, As Flores do Mal
Dia 09, F. Dostoiévski, Memórias do Subsolo
Dia 16, Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas

Março
Dia 02, José Hernandez, Martin Fierro
Dia 09, T. S. Eliot, Poesia
Dia 16, Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido
Dia 23, Fernando Pessoa, Obra Poética
Dia 30, James Joyce, Ulysses

Abril
Dia 06, Virgínia Woolf, Rumo ao Farol
Dia 13, Franz Kafka, O Processo
Dia 20, V. Maiakóvski, Poemas
Dia 27, Robert Musil, O Homem sem Qualidades

Maio
Dia 04, Bertolt Brecht, Santa Joana dos Matadouros
Dia 11, Jorge Luis Borges, Obra completa
Dia 18, William Faulkner, O Som e a Fúria
Dia 25, Graciliano Ramos, Vidas Secas

Junho
Dia 01, Jean Paul Sartre, A Náusea
Dia 08, Albert Camus, O Estrangeiro
Dia 15, Carlos Drummond de Andrade, Obras completas
Dia 22, Samuel Beckett, Molloy e Esperando Godot
Dia 29, Miguel Angel Astúrias, Sr. Presidente

Agosto
Dia 03, Antonin Artaud, Para acabar com o julgamento de Deus
Dia 10, Walter Benjamin e Theodor Adorno, A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica e A Dialética do Esclarecimento
Dia 17, Paul Celan e Primo Levi, Cristal e É isto um homem?
Dia 24, Tennessee Williams e Edward Albee, Um Bonde Chamado Desejo e Quem tem medo de Virgínia Woolf?
Dia 31, Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas

Setembro
Dia 14, Julio Cortázar, O Jogo da Amarelinha
Dia 21, Truman Capote, A Sangue Frio
Dia 28, Dylan Thomas, Poemas Reunidos

Outubro
Dia 05, Juan Rulfo, Pedro Páramo
Dia 19, Jean Françoise Lyotard e Fredric Jameson, A Condição Pós-Moderna e Pós-Modernismo
Dia 26, Juan Carlos Onetti e Roberto Bolaño, Junta-Cadáveres e Noturno do Chile

Novembro
Dia 09, Luandino Vieira, Luuanda
Dia 16, Thomas Pynchon, O Arco-Íris da Gravidade
Dia 23, Giorgio Aganbem, Estado de Exceção
Dia 30, Thomas Bernhard, O Náufrago

Dezembro
Dia 07, Antonio Lobo Antunes, Os Cus de Judas
Dia 14, Edward Said, Orientalismo
Dia 21, John Maxwell Coetzee, Desonra

O curso funciona através de 39 encontros, com apresentações expositivas sobre os autores por uma hora e trinta minutos, em média. Depois, há mais trinta minutos para as perguntas.

Local: Rua Cristóvão de Burgos 52 (a 50 metros do metrô Vila Madalena)
Horário: às segundas feiras, das 20 às 22 horas
Valor: 180 reais por mês (com exceção do mês de julho, quando não há encontros)
Vagas: 25
Informações: rlisias@yahoo.com.br

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Contos inacabados (1)

Recebi o pacote com as cartas dois dias depois do funeral. Reconheci a letra instantaneamente, assim que coloquei os olhos no envelope. A escrita uniforme, com microespaços a cada três ou quatro letras, porque ela costumava respirar entre as sílabas. Ou mudar de idéia enquanto escrevia.

Era um pacote pardo, de papel reaproveitado, correto como ela foi, ou tentara ser, por toda a vida. Parecia um envelope de escritório, embora não tivesse timbre e eu soubesse que ela não tinha emprego fixo. Lógico que não, escritor não tem carteira assinada, não bate ponto, não tem holerite.

Imaginei que fosse algum manuscrito, um livro inacabado. Nada me preparou para o que encontrei quando abri o pacote, o que só aconteceu semanas depois de eu o ter recebido. A turnê do meu último livro tinha recém começado e eu viajaria pelo país visitando universidades e bibliotecas por algum tempo antes de voltar para casa. Eu poderia ter carregado o pacote comigo, leria no avião, teria tido tempo para isso, mas não o fiz. A bem da verdade, eu receava o conteúdo, temia desvendar aquele mistério.

De volta, ainda demorei alguns dias para criar coragem para finalmente descobrir o que uma moribunda teria para me dizer, a mim, que há tantos anos não a via e que soubera da morte pelos jornais.

Aquela correspondência me perturbava. Os ecos da nossa última conversa ainda me atormentavam.

Cuidadosamente, rasguei o pacote com o abridor de cartas. Não queria arriscar estragar o envelope. Era a letra dela que estava ali, era uma das últimas coisas que ela tinha escrito. Ainda que fosse apenas um endereço, era o lugar onde ela tinha morado durante breves instantes. Era o meu nome que estava ali, as últimas letras de uma das maiores escritoras que já conheci.

Um punhado de cartas. Ou eu supunha eram cartas. Fechadas em envelopes de diversas cores e tamanhos, endereçadas a pessoas de quem eu nunca tinha ouvido falar. Havia também uma carta para mim.

Ela dizia que tinha tido muito tempo para pensar e que sentira minha falta, embora não pudesse chamar meu nome. Ela esperara o filho se ausentar do quarto para entregar o pacote à enfermeira junto com um dinheiro e a recomendação de postá-lo só depois que morresse. Ela pediu que eu procurasse aquelas pessoas. Disse que eu precisava conhecê-la, compreender o que tinha se tornado. Disse que era o único jeito: se eu ainda quisesse saber quem ela era, deveria seguir as cartas.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Histórias de Bia (2)

A meu querido Geraldo, barão de Campinas.

Embora demonstrações de afeto tão elegantes como as de Vossa Senhoria muito façam honrarias a uma dama da corte como eu, acredito que tais doces palavras e gestos carinhosos sejam merecedores de melhor destino do que ouvidos tediosos ou um coração atribulado como os meus.

Guardarei com zelo todas as mensagens que recebi de Vossa Senhoria, mas a elas não retornarei. As lembranças são muitas e receio que a força nelas contida seja imensamente maior do que a que impulsiona minha vontade.

Por favor, perdoe o caráter abrupto desta missiva, mas de outra forma eu não seria capaz de romper com os laços recentes, porém intensos, que unem Vossa Senhoria à sua humilde serva,

Beatriz de Ortiz e Camargo.

(São Paulo, 1809)

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Feliz 2009

Tem algo de inquietante em estar dentro de um navio no meio do oceano. Faz com que eu me sinta pequena, com que aquilo que eu acho que é um problema fique pequeno.

Como no ano passado, o tempo no Splendour estimulou minhas reflexões e ajudou a colocar minha vida de volta no eixo. Decisões que eu adiei, ajustes que eu já deveria ter feito, tudo isso ficou muito mais claro quando há minha volta só havia água.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Impressionante, mas todo o meu ataque de ansiedade passou, ou melhor, sumiu.

Não sinto mais nada, nada mesmo.

Estou na outra ponta da linha agora, apática, sem sentir nada, olhando as coisas acontecerem. Nem a perspectiva do fim de semana me anima.