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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Histórias de Bia (3)

Depois que eu desliguei o telefone, meu mundo caiu.

Meu filho de um ano e meio dormia no carrinho e, à minha volta, as mulheres que carregavam sacolas de marca contendo roupas descartáveis não tinham ideia do que acabara de ocorrer, embora todas elas, aposto, dedicassem vários minutos de seus dias vazios e suburbanos a sonhar com uma ligação como a que eu recebera.

A voz dele, muda nos últimos 10 anos, ainda parece saída de um personagem de desenho animado e a impressão de que do outro lado da linha poderia estar alguém como o Patolino ou o Mickey não diminuiu a onda de tesão que, como um tapa, acordou meu corpo.

Não consegui contar a verdade, porém. De todos os dias de todos os anos em que estivemos separados, ele escolheu hoje, justo hoje, para, tal Lázaro, ressurgir das cinzas de um relacionamento que eu julgava enterrado em um passado do qual eu não tenho orgulho nenhum. Hoje, justo hoje, o dia do meu aniversário de casamento, minhas bodas, como o fotógrafo da revista fez questão de nomear quando me ligou pedindo permissão para cobrir a festa.

Ele disse que queria me ver, pediu que eu o encontrasse mais tarde naquele café do centro da cidade. Eu disse que iria, que ele me esperasse. Falei que seria ótimo revê-lo, a única coisa que não era mentira.

A verdade ele vai ficar sabendo pelas bancas de jornais amanhã.

Rio de Janeiro, 2007

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