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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Histórias de Bia (2)

A meu querido Geraldo, barão de Campinas.

Embora demonstrações de afeto tão elegantes como as de Vossa Senhoria muito façam honrarias a uma dama da corte como eu, acredito que tais doces palavras e gestos carinhosos sejam merecedores de melhor destino do que ouvidos tediosos ou um coração atribulado como os meus.

Guardarei com zelo todas as mensagens que recebi de Vossa Senhoria, mas a elas não retornarei. As lembranças são muitas e receio que a força nelas contida seja imensamente maior do que a que impulsiona minha vontade.

Por favor, perdoe o caráter abrupto desta missiva, mas de outra forma eu não seria capaz de romper com os laços recentes, porém intensos, que unem Vossa Senhoria à sua humilde serva,

Beatriz de Ortiz e Camargo.

(São Paulo, 1809)

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Histórias de Bia (1)

Meu marido morreu ontem. Teve uma ataque cardíaco na praia. Um horror, o rapaz da funerária disse que tinha areia em tudo quanto é canto. Disse que teve de esfregar e esfregar as pernas, a barriga, as costas, lavar o cabelo preto do Ricardo três vezes para tirar toda a areia. O resultado foi que ele ficou bem rosadinho, mesmo depois de morto no caixão, bonito mesmo.


Ricardo era muito admirado, por isso mesmo ninguém acredita que um homem que passou a vida se jogando de penhascos ao mar, se exibindo para turista ver, tenha tido um enfarte ao ver a mulher vestindo um duas-peças na praia em vez daqueles maiôs com saiote. Que culpa tenho eu se meu corpo é bonito?

Agora, vocês me dão licença que já está chegando gente para o velório.

Acapulco, 1957