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quinta-feira, 12 de junho de 2008

Para quem não gosta de ler (1)

Um querido amigo, sabedor da minha mania por listas e, talvez, inspirado pelo rol que dediquei a Laura e Nina, pediu-me que pensasse em dicas de leitura para quem não gosta de ler. A Iphy, nova amiga velha, em comentário aqui no blog, também mo pediu algo semelhante.

Desde que recebi a incumbência, pus-me a pensar no óbvio. Se alguém não gosta de ler, não adianta recomendar livro nenhum. A pessoa não vai ler o que você indicar. Ela não gosta de ler, não tem nenhuma relação especial com os livros. Ela não entra em uma livraria como se estivesse pisando em solo sagrado, não faz reverência um sebo. Essa pessoa não desconfia do que há escondido nas páginas de um livro. Bom, até aí, você também sabe o que há lá, mas é justamente essa a sua paixão: descobrir, desvendar a existência oculta na ficção.

Mas, por amor ao argumento (eu adorava usar essa frase, nos meus tempos causídicos), suponhamos que essa pessoa, para te agradar, abra o livro que você recomendou. Você se encherá de esperanças, que intimamente sabe serem vãs, regozijando-se por ter trazido aquela alma escura e perdida à luz reveladora da literatura. Sua boa ação, no entanto, se reduzirá a pó quando seu pupilo acabar com sua pretensão pigmaleoa, declarando “nossa, que livro chato”.

Então, não se forma um leitor, não se torna leitor, nasce-se? Não, acho que não. Não nasci leitora, aprendi a ler e depois a ler. Mas, convenhamos, há aqueles em quem a leitura não desperta nada além de desconfiança (“Essa menina deve ter algum problema, só fica jogada no sofá, lendo”), escárnio (“Ler? Você gosta de ler? Putz, que careta”), asco (“Ai, credo, você vai ficar aí, lendo?”) e outras manifestações de repúdio.

Mas, tergiverso.

Talvez seja possível, sim, indicar livros para quem não gosta de ler. O segredo está em ser um tanto psicólogo, outro tanto professor e mais um tanto clarividente. Acredito que a única forma de despertar o gosto pela leitura é encontrar um livro com o qual a pessoa se relacione, ou seja, algo que fale a mesma língua do leitor, que trate de alguma particularidade da vida do leitor.

Para conquistar o leitor, o livro deve agir como um tsunami. Perdoem-me a metáfora pífia, mas insisto nela e digo que é preciso que as areias sejam reviradas, os coqueiros sejam arrancados e todas as certezas sejam abaladas para que um livro conquiste o leitor.

É responsabilidade por demais pesada para um punhado de folhas de papel impressas. Esperamos que elas sejam verdadeiros Alexandres, Átilas, Leônidas ou Césares, que travem batalha atuem com os leitores incautos e os conquistem de forma avassaladora, que vençam todas as resistências, que arrasem com todas as defesas e que o banquete da vitória seja repleto de palavras inéditas, idéias ousadas, enredos incômodos e associações inteligentes.

A verdade é que todos nós queremos ser dominados por um bom livro.

Sorte de quem já foi.

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