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segunda-feira, 2 de junho de 2008

Literatura na Mantiqueira

E o Festival Literário de São Francisco Xavier foi uma grata surpresa. Fomos en petit comite passar o sábado nas montanhas, entre letras, livros, literatura e loucos (reparem no post aliterando em L).

Letras, muitas, espalhadas por toda a cidade. A organização do evento decorou a praça, o coreto (sim, tinha um coreto!) e os jardins com letra e mais letras de madeira, fincadas na terra, penduradas em paredes, uma graça.

Livros, havia para todos os gostos. A Saraiva montou uma tenda para vender os títulos escritos pelos autores convidados para os debates e também os textos de gente como Nelson de Oliveira, Andrea Del Fuego, Pietroforte e Adriana Lisboa, todos (salvo engano meu) recomendados por Marcelino Freire, responsável pela oficina literária para estudantes. Comprei Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios, de Marçal Aquino, Bandidos e mocinhas, de Nelson Motta, e Ódio sustenido, de Nelson de Oliveira.

Literatura foi o assunto do dia. O primeiro debate a que assisti foi o Diálogos Literatura e Cinema, com Suzana Amaral (a diretora de A Hora da Estrela e Uma Vida em Segredo), Moacyr Scliar (autor de A Mulher que Escreveu a Bíblia) e ele, a razão da minha viagem, Marçal Aquino. O mediador foi Cunha Jr., apresentador do programa Metrópolis, da TV Cultura, e host oficial do evento. Marçal esteve ótimo, irascível mas adorável, conquistando toda a platéia com opiniões seguras e independentes. Suzana Amaral foi surpreendente e Moacyr Scliar, decepcionante. Ouvir um membro da Academia Brasileira de Letras dizer que "livro bom é livro sem diálogo" foi o fim da picada.

O segundo debate foi o Diálogos Literatura e Bossa Nova. Falou-se muito mais sobre música que sobre literatura, apesar da presença de Zuenir Ventura, mas nem poderia ter sido diferente, considerando que os outros componentes da mesa foram Nelson Motta (que, imagino, dispensa apresentações) e Fernanda Takai (a vocalista da banda mineira Pato Fu, que lançou um álbum solo só com regravações de Nara Leão).

E os loucos? Bom, estavam na platéia: gente que demora cinco minutos para fazer uma pergunta porque acha que precisa contextualizar e contar a história do pai; gente que afirma que a bossa nova acabou em 1966 e leva um fora do Nelson Motta, que estava lá e viveu a época; gente que fala "grandiloqüência" e "ideologização", mas não consegue fazer uma pergunta interessante; gente que acha que o cinema brasileiro só fala de miséria e de "coisas deprimentes" e que Nelson Rodrigues é "agressivo" e ainda tem coragem de falar isso em voz alta, na frente do Marçal.

No fim das contas, saldo mais que positivo: passei o dia com amigos queridos, assisti a debates bastante interessantes e ganhei autógrafos do Nelson e do Marçal.

No ano que vem, vou de novo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Miga, você me enche de orgulho. Amei os anacolutos, a cadência das orações coordenadas assindéticas aditivas, tudo de forma a emoldurar um conteúdo rico e profundamente revelador do seu ser amplo e polimático.
Beijinhos!

Anônimo disse...

Adoraria ter visto e ouvido Marçal de Aquino!
Gostei demais desse livro que você comprou e me arrependo até hoje de, por frágeis pudores, não tê-lo roubado de meu ex...