Já falei diversas vezes, aqui no Casco, sobre gastronomia. É uma das minhas paixões, a que pouco tenho me dedicado, menos por falta de cobaias para experimentar minhas incursões culinárias e mais por falta de tempo, já que passo doze horas por dia escrevendo.
Falei sobre chocolate, sobre panetone com champagne, falei sobre como acho abominável e desprezível fazer dieta. Não importa o quanto eu escreva sobre o assunto, dificilmente abordarei-o com tanta delicadeza e precisão quanto Xico Sá, em seu post de 20 de janeiro:
PARA REABRIR O APETITE DAS MOÇAS
Nada mais bonito do que uma mulher que come bem, com gosto, paladar nas alturas, lindamente derramada sobre um prato de comida, comida com sustança. Os olhinhos brilham, a prosa desliza entre a língua, os dentes, sonhos, o céu da boca. Ela toma uma caipirinha, a gente desce mais uma, sábado à tarde, nossa doce vida, nossos planos, mesmo na velha medida do possível.
Pior é que não é mais tão fácil assim encontrar esse tipo de criatura. Como ficou chato esse mundo em que a maioria das mulheres não come mais com gosto, talher firme entre os dedos finos, mãos feitas sob medida para um banquete nada platônico.
Época chata essa. As mulheres não comem mais, ou, no mínimo, dão um trabalho desgraçado para engolir, na nossa companhia, alguma folhinha pálida de alface ou rúcula.
A gente não sabe mais o que vem a ser o prazer de observar a amada degustando, quase de forma desesperada, uma massa, um cuscuz marroquino/nordestino, um cabrito, um ossobuco, um barreado, um bife à milanesa, um chambaril, um torresmo decente, uma costela no bafo.
Foi embora aquela felicidade demonstrada por Clark Gable no filme ''Os Desajustados'', quando ele observa, morto de feliz, Marilyn Monroe devorando um prato. E elogia a atitude da moça, loa bem merecida, abafa o caso.
Toda preocupação feminina agora está voltada para a estatística das calorias, as quatro operações da magreza absoluta, ditadura da tabuada, lero lero, vida noves fora zero. É como se todas fossem posar para a ''The Face'' do dia para a noite, fazer bonito nos editoriais de moda, vôte! Mal sabem que isso não tem, para homem que é homem, quase nenhuma importância.
François Truffaut, o francês cineasta, padrinho sentimental deste cronista, já alertava, em depoimentos registrados em suas biografias, o valor insuperável das mulheres normais e o seu belo mundo de pequenas imperfeições. Tudo sob medida das nossas taras sem réguas, sem balanças, sem trenas.
Além do prazer de vê-las comendo, coisa mais linda, pesquisas recentes mostram que as mulheres com taxas baixíssimas de colesterol costumam ser mais nervosas, cricris, chatas, dão mais trabalho na rua, em casa, no bar, pense no barraco!
Nada mais oportuno para convencê-las a voltar a comer, reiniciá-las nesse crime perfeito.
Às fogazzas, aos pastéis, aos cabritos, ao sanduíche de mortadela, ao lombo, de lamber os lábios, ao churrasco de domingo para orgulho do cunhado, que capricha na carne e incentiva os seus pecados todos. E aquela fava, meu Deus, com charque, enquanto derrete a manteiga de garrafa, último tango do agreste...O importante é reabrir o apetite das moças, pois homem que é homem, como diz meu velhíssimo mantra, não sabe sequer - nem procura saber - a diferença entre estria e celulite.
Escrito por xico sá às 21h46
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Abaixo a dieta 2
Postado por Bia às 09:27
Tartatags: cotidiano, gastronomia, relacionamentos
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4 comentários:
Lindona,
1) V. escreve 12h/dia? E o pobre do Papageno, tudo bem?
2) Não seja modesta, que v. é cozinheira de mão cheia, digna de indicação honrosa pela Vejinha.
3) Estrias e celulites - frescura de mulher, mesmo. Afora isso, a alma não é muito mais?
Bibi,
Conta um segredinho pra gente: "O Xixo Sá" realmente habita o planeta Terra?
Ele dá palestras? Seminários? Algo assim? Pra gente mandar um bando de homens "METROSEXUAIS", porque eu estou com Xico Sá, homem que é homem pensa tão diferente.
Fantástico seu post e o texto dele.
Bjo
Aarão,
1) Sim, 12 horas por dia, durante a semana. Aos finais de semana, minha dedicação é voltada inteiramente aos psitacídeos.
2) Obrigada pelo elogio, darling. Estou lhe devendo um jantar, por falar nisso!
3) Concordo plenamente. Estrias e marcas na alma só fazer agregar à nossa personalidade. Abaixo a ditadura do físico, viva a tara intelectual!
Beija-flor, querida,
Xico Sá existe sim, e, ao vivo e a cores, ele é assim mesmo, desse jeitim encantador. Esse homem vive para louvar às mulheres!
Faço coro às suas preces e peço que ele faça escola por aí!
Beijos!
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