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terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Abaixo a dieta

Leio na revista Época desta semana entrevista com Barry Glassner, sociólogo americano autor do livro Os segredos da alimentação saudável. Glassner é um estudioso do medo e explica que resolveu estudar hábitos alimentares após perceber que as pessoas estão ficando quase paranóicas em relação a dietas e restrições alimentares.

Algumas observações feitas durante a entrevista não são novidade. Que os americanos e ingleses são os povos que mais ingerem gordura trans ou que a taxa de mortalidade por ataque cardíaco na França não é um absurdo, apesar de os franceses se entupirem de manteiga, queijos e pães, isso outras pesquisas já demonstraram.

Outras declarações do sociólogo, porém, refletem o que eu penso acerca dessa histeria coletiva que faz com que um pão de queijo recheado com catupiry seja proibido como se fosse arsênico ou beladona. Uma das afirmações mais interessantes que li é sobre a carência que as pessoas se impõe, achando que comer de tudo é ruim e comer só verduras e frutas é bom. Essa ausência de alimentos variados, segundo o autor, faz com que a pessoa enjoe de comer sempre a mesma coisa e perca o prazer de desfrutar as refeições. Ele diz: “É uma loucura acreditar que o que faz uma refeição ótima é o que ela não tem.”

Não vejo nada de errado no hedonismo, muito pelo contrário. Ter prazer nas pequenas coisas e divertir-se cotidianamente é essencial para mim. Restrições tacanhas, de qualquer natureza, mas principalmente alimentares, têm o condão de me deixar de mau humor. Solidarizo-me com todos aqueles que sofrem na mão de tiranos que pretendem ditar o que podemos ou não fazer. Como a situação vivida por uma amiga minha, ao consultar o cardiologista. Ela, uma senhora de certa idade, casada há décadas com o primeiro namorado, ouviu do médico a recomendação de que deveria fazer um regime para perder peso e que “a mesa não é lugar de ter prazer”.

Tenha dó! Poucas sensações são comparáveis a prazeres gastronômicos como saborear uma torta de maçã recém-saída do forno, mastigar um terno naco de carne grelhada à perfeição, sorver as bolhinhas de uma taça de champagne ou derreter um tablete de chocolate venezuelano na boca.

Ao infame profissional, minha amiga teve vontade de responder (o que não fez por ser extremamente educada e elegante): “Ora, se já não tenho prazer na cama, se o senhor me tirar os da mesa, o que me restará? Só o banho?”

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