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segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Qual é o livro que definiria o Brasil?

Lendo as postagens antigas de um dos blogs do Publisher’s Weekly, deparo-me com um comentário sobre uma jornalista de Chicago que indagou a seus leitores qual seria o grande romance norte-americano, aquele que melhor reflete o espírito, caráter e destino do EUA, considerando aspecto positivos e negativos, erros e triunfos.

A jornalista, Julie Keller, acabou por escolher Psicopata americano, romance do enfant terrible Bret Easton Ellis. O livro é o diário de Patrick Bateman, um executivo de Wall Street, jovem, rico e bonito, que é também um serial killer. A narrativa mostra a futilidade de Bateman, que mata pessoas com a mesma naturalidade e falta de emoção com que aluga vídeos na locadora. Bret Easton Ellis é um dos mais ferrenhos críticos da cultura yuppie dos anos 80 e também é autor de Abaixo de Zero (Less than zero, adaptado para o cinema em 1987, com Robert Downey Jr.). Psicopata americano, lançado em 1991, foi adaptado para o cinema em 2000 com o ótimo Christian Bale no papel principal. Particularmente, adoro Less than zero, apesar de ser triste e deprimente.

A escolha da jornalista do Chicago Tribune recaiu sobre um romance que mostra a decadência de uma parcela da juventude americana, que não sabia muito bem o que fazer com tanto dinheiro e tanta liberdade na época Reagan. Aqui, no Brasil, os livros que são tidos como a identidade do país tem outra temática.

No âmbito da não-ficção, a lista de livros que compõe o perfil do Brasil e dos brasileiros é bastante conhecida e inclui Casa grande & senzala, de Giberto Freyre; Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Hollanda, e O que faz o Brasil, Brasil?, de Roberto Damatta.

Mas e na ficção? Muitos diriam que Macunaíma poderia ser escolhido como o perfil do brasileiro, mas eu discordo. Pollyana como sou, quero crer que o brasileiro tem caráter, sim.

Revendo uma lista dos 50 personagens mais importantes da literatura brasileira, publicada certa vez pela EntreLivros, monto um brasileiro aos pedaços, qual Victor Frankestein de saias: corajoso como o capitão Rodrigo Cambará (“Buenas e me espalho!”); charmoso como Solange, a dama do lotação, e lascivo como Gabriela; falastrão como Leonardo Pataca, mas inocente como o Fernando, de Sabino, e crédulo como a Velhinha de Taubaté.

Esqueci-me de vários personagens e livros, disso tenho certeza. Ainda assim, não consegui decidir-me por um único romance. Parece-me impossível que ao brasileiro possa ser atribuída uma única personalidade, a cada um de nós, que somos tão diversos.

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