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quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A nova escravidão

Eu, a menina que odeia fazer dieta, fico feliz ao ler a seção Espaço Aberto de hoje no Estadão.

Miguel Reale Jr. escreveu um artigo muito interessante sobre o significado do corpo (sim, do físico) desde Adão até os dias de hoje.

Em uma exposição de idéias lindamente encadeadas, ele começa e a glorificação do corpo, considerado pela Bíblia o bem maior, a única coisa que retomaremos no momento da segunda vinda de Cristo. Por isso, segundo o artigo, a forma de controle mais utilizada na Idade Média, por exemplo, as punições e as restrições mais comuns, envolvem castigos físicos e privações do corpo.

Não vivemos mais em feudos medievais. Já passou o tempo em que o corpo das pessoas e sua força física eram escravizados em nome da produção comercial. A filosofia paz-e-amor dos anos 1960 veio para libertar mente e corpo, para dar às mulheres total domínio sobre o seu físico.

No entanto, como bem aponta o artigo, nem sempre as mulheres sabem o que fazer com essa liberdade. E nesse ponto reproduzo as palavras de Miguel Reale Jr.:

"Engano. A exterioridade prevalece, na atenção angustiada ao corpo. Há nova forma de escravidão. Tornam-se escravos do corpo, que escraviza ao ser endeusado como escultura a reproduzir os modelos construídos por celebridades: um desespero a cada grama a mais denunciado pela balança.
(...)
Garotas sem tempo para ler, para exercitar a imaginação e a fantasia, para se entreter com filmes, com brincadeiras e conversas, dedicadas exclusivamente à ginástica autocentrada em frente ao espelho."

E o articulista encerra magistralmente, refletindo-se em suas palavras tudo o que penso a respeito do assunto:

"A aparência predomina sobre a substância. Na nova escravidão, seqüestra-se o espírito: só existe o corpo. E se esquece que os dois, corpo e espírito, devem ser alimentados simultaneamente para uma vida significativa. A busca da beleza escultural como um fim em si mesmo produz mentes insanas, corpos sem densidade."

Falou e disse.


P.S. A inspiração deste post devo a minha querida amiga Stefanne, competentíssima mídia da agência. Não, ela não é uma dessas fanáticas por corpos esculturais, mas, sim, por cérebros em forma. Graças a ela, o jornal chega todos os dias à minha mesa.

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