Páginas

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Conquistar sempre, perecer nunca!


Você está sozinha, sem namorado. Seu último relacionamento já terminou há um ano, e você nunca mais se envolveu com ninguém. Lógico, teve um casinho aqui, outro ali, mas nada sério. Não que você quisesse alguma coisa séria com aqueles tipos, sabe que eles não serviriam para namorar, mas, mesmo assim, gostaria que pelo menos um deles tivesse tido a decência de ligar no dia seguinte. Resoluta, você não perde a esperança de conhecer alguém bacana.

Então, você fica pensando, eu vou encontrar um cara legal, vou encontrar um cara legal, um mantra entoado no momento em que você acorda e olha para o criado-mudo sem foto; quando vai tomar banho e tem uma só toalha pendurada no gancho, e até na hora de se vestir, a calcinha branca de algodão, meio amarelada, e você percebe que há tempos não compra roupa de baixo porque, simplesmente, não tem para quem mostrá-la.

Você se mantém firme nessa história de pensamento positivo. Já te falaram que é uma ferramenta poderosíssima, você acredita. Lembra-se de todos aqueles livros da lista dos mais vendidos, milhões de pessoas não podem estar erradas. Alguém te indica uma cigana, você vai e ela te diz que o que é seu está guardado. Você, no íntimo, espera que ela não esteja falando dos dólares que sua avó te deu no último aniversário e que estão escondidos junto com as calcinhas que você nunca usa. Bom, os dólares você também nunca usa, porque ainda não se animou para gastá-los em uma viagem solitária.

Seu cabeleireiro fala sobre um incenso para espantar maus espíritos. Uma amiga quer te apresentar um colega de trabalho do primo da mulher do chefe dela. Sua mãe acha que você tem de mudar de emprego; você não entende o que uma coisa tem a ver com a outra, mas como ela sempre reclamou do seu emprego, você não dá ouvidos. O garçom do bar que você freqüenta te dá a dica, olha, aquele cara ali no canto gostou de você, ele é separado, mas é gente boa, quer dizer, separado não, mas é como se fosse, a mulher dele é uma chata; você agradece e pede outra caipirinha, anotando mentalmente para deixar uma boa gorjeta, ou mudar de bar. Seus amigos já se acostumaram a te ver sozinha, mas eles são legais, gostam de você, se preocupam com o seu bem-estar, não ficam comentando sobre sua solidão pelas costas, eles até pedem para que você cuide dos filhos deles durante o fim de semana na praia, não é ótimo?

Um dia, você resolve fazer uma lista de tudo o que você gostaria que um homem fosse, tivesse, falasse, fizesse. Listas são uma mania, você não consegue se livrar delas, desde criança é fissurada em listas. Fazia listas das novelas que já assistiu, dos livros de que tinha gostado, dos atores que achava bonitos. Lembra-se dos atores e começa a escrever. Você não pede o corpo do Vin Diesel, mas pede que o seu eleito – coisa cafona, chamar de eleito, mas você ainda não consegue falar namorado, na-mo-ra-do, não por enquanto – seja um homem forte, bom caráter, seguro de si e que a respeite. Você não pede o charme do Kiefer Sutherland, mas pede que ele tenha bom humor e carisma. Você não pede a inteligência do Einstein, mas pede que ele saiba, pelo menos, quem foi Einstein. Palavra por palavra você descreve – em uma atitude meio patética, meio adolescente – um ser mitológico, um verdadeiro Ulisses e reza para que ele apareça.

Sim, reza. Para Zeus e os resto do Olimpo, que liberem um daqueles semideuses para você. Para Buda, que o seu caminho de iluminação seja à luz de velas, com champanhe, morangos e chocolate, dentro de quatro paredes. Para Shiva, que transforme a sua existência sem graça em uma vida plena, trazendo alguém a quem você possa se dedicar. E para Santo Antônio, ele mesmo, o infalível. Você faz a trezena, acende velas azuis, vai até a casa dele visitá-lo.

Três meses depois, todo o seu esforço é recompensado e seu Ulisses aparece. A luta acabou, Tróia ficou para trás. Todos aqueles fulanos em pele de cavalo que apareceram diante de seu portão se foram, restou apenas o herói.

Seis anos mais tarde, quando tudo parecia perfeito, o que você faz? Atende o telefone na hora que não poderia. E mais, não desliga na hora que deveria.

Irônico ou o quê?

2 comentários:

Codinome Beija-Flor disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Olá.

Sou uma leitora assídua do seu blog mas nunca comento. Mas não poderia deixar de falar que embora essa crônica tenha um bom humor, é triste, muito triste.
Porque revela a natureza humana.
Porque me dá a certeza: Principes na vida real sempre viram sapo.
Belo texto!parabéns!
Fafi.

Se vc quiser e tiver tempo, dá uma passadinha para ler meus textos, o end. é WWW.diariodafafi.blogspot.com/