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quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Robert Frost e os Outsiders

Li, na edição de ontem do NY Times, que dois críticos literários estão contestando o trabalho de transcrição de 47 cadermos de anotações do poeta americano Robert Frost, feito por Robert Faggen, autor do livro The Notebooks of Robert Frost, publicado pela Harvard University Press e lançado em janeiro passado. Erros de ortografia e gramática foram identificados pelo críticos e, agora, o organizador do livro está tendo de se explicar.


O fato de os cadernos de Robert Frost nunca terem sido escritos com a intenção de serem publicados parece não importar a ninguém. Muitas frases estão soltas, rabiscadas, rasuradas, o que explica a dificuldades de compilá-las corretamente.

O interesse dos americanos em Robert Frost se deve à quantidade imensa de citações poéticas a ele atribuídas e que todo estudante aprende a repetir desde cedo. Além de Frost, só me ocorrem outros dois nomes, tão reproduzidos quanto: Ralph Waldo Emerson e W.H. Auden.

Eu ouvi falar em Robert Frost pela primeira vez quando eu tinha uns 12 anos. Minhas amigas e eu havíamos assistido a Vidas sem rumo (The Outsiders, 1983). A razão que nos levou a procurar esse filme não era nada nobre: o elenco trazia todos os bonitões da época. Era a nossa chance de suspirar, de uma vez só, por Matt Dillon, C. Thomas Howell, Rob Lowe, Tom Cruise, Patrick Swayze, Ralph Macchio e Emilio Estevez.

O filme, dirigido por ninguém menos que Francis Ford Coppola, conta a história de um grupo de jovens de classe baixa, os Greasers, e que tem uma rixa com a turma de ricaços da cidade, os Socs. Em uma noite, as duas gangues se enfrentam em uma briga que não acaba muito bem. Dois dos jovens greasers são obrigados a fugir da cidade e o filme passa a focar a convivência entre os dois e o fortalecimento dessa amizade.

Durante o tempo em que eles se escondem em uma igreja abandonada, uma das distrações dos rapazes é ler. Ponyboy Curtis, o personagem de C.Thomas Howell, lê em volta ...E o vento levou, de Margaret Mitchell. Em outro momento, ele relembra os versos de um poema que aprendera mas que nunca entendera muito bem o significado:



Nothing Gold Can Stay

Nature's first green is gold,
Her hardest hue to hold.
Her early leaf's a flower;
But only so an hour.
Then leaf subsides to leaf.
So Eden sank to grief,
So dawn goes down to day.
Nothing gold can stay.


E é por causa desse poema que fiquei conhecendo Robert Frost. A história do filme e a força do poema nos impressionaram, todas nós. Compramos o livro de Susan E. Hinton, lemos juntas, decoramos passagens, revimos o filme. Fazem - filme, livro, poema - parte da minha formação, assim como as obras que mencionei aqui. Coppola também filmou outro livro de Hinton, O selvagem da motocicleta (Rumble Fish, 1983), que igualmente entrou para o nosso rol de adoração.

São livros e filmes datados, eu sei, mas recomendo-os mesmo assim.

2 comentários:

Anônimo disse...

Você usou "datado" como "dated things or ideas seem old-fashioned, although they may once have been fashionable or modern"? Interessante!
Gostei.

Bia disse...

Exactly, embora seja uma apropriação do sentido que a palavra dated tem em inglês. Em português, uma das acepções de datado, segundo o Houaiss, é "característico de uma época determinada". O uso da palavra como sinônimo para ultrapassado é considerado pejorativo pelo dicionário.
Para mim, ser datado não tem nada de ultrapassado; tem, sim, o sentido de ser o registro de um tempo, a memória de uma época.
Obrigada pela visita e o comentário!
Quem sabe, da próxima vez, você me dê a alegria de deixar seu nome...?
Bem-vindo(a) ao Casco!