Hoje faz dois meses que Zélia Gattai morreu e a data pôs-me a pensar na sua obra e na do marido, Jorge Amado.
Dela, nunca li nada. Aqui em casa havia um exemplar de Anarquistas, Graças a Deus, mas não sei onde foi parar. No momento em que escrevo este post, percorro minha estantes com os olhos e não o encontro. Desconfio que eu deva tê-lo emprestado à minha avó e nunca o recobrei.
Aliás, é essa a impressão que a escrita de Zélia Gattai me dá, algo para ser lido por gente muito mais velha que eu. Zélia era contemporânea de minha avó, apenas sete anos mais velha. Passou a infância e adolescência em São Paulo, suspeito que no bairro do Brás, por ser filha de imigrantes italianos. Minha avó morava na Rua Jairo Góes, a mesma da famosa pizzaria Castelões. Provavelmente os fatos, lugares e cheiros descritos por Zélia eram parecidos com os que minha avó testemunhou, passou, experimentou. Quem sabe, D. Adyléa pudesse ter sido uma memorialista como a outra moradora do bairro, se tivesse tido a oportunidade ou a vontade.
De Jorge Amado, li Capitães da Areia, e só. Acho um dos livros fundamentais para adolescentes, mas já disse isso antes. Impressionantemente atual, ainda que tenha sido escrito em 1937. O escritor baiano esta na capa da revista Língua Portuguesa deste mês, mas uma das referências mais bacanas feitas a ele não está na matéria principal.
Em entrevista, o escritor moçambicano Mia Couto fala sobre a literatura lusófona, as diferenças entre o português falado no Brasil, Portugal e Moçambique e as influências dos dois primeiros no país africano. Ele diz que o português brasileiro influenciou a escrita moçambicana porque mostrou que é possível quebrar as rígidas regras do português de Portugal e ainda assim fazer-se boa literatura.
Segundo Mia Couto, "uma das razões de Jorge Amado ter cativado a África lusófona foi nos ter apresentado personagens falando o português coloquial do Brasil. A adesão imediata foi porque nós também falamos daquele jeito. E percebemos que não é errado". Já imaginou? Jorge Amado foi um dos responsáveis pela independência lingüística do lugar.
Moçambique, como lembra Mia, é um país jovem, liberto do jugo de Portugal em 1975, ainda a descobrir sua identidade literária.
Um comentário:
E daí à atual reforma... há meios e meios de unificar, não?
Abraços!
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