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terça-feira, 15 de julho de 2008

Eu acredito em concurso de miss

Quando eu era criança, o concurso de Miss Brasil era transmitido pelo SBT – acho que na época o canal se chamava TVS. Lembro-me de assistir às cerimônias com minhas primas, nas casa de minha avó paterna, de ficar torcendo pela Miss São Paulo, de fazer lista das que achávamos mais bonitas e de ficar pichando as, vamos dizer, menos dotadas de atributos estéticos. Minha prima mais velha poderia, fácil, ter sido miss. Mas eram só sonhos.

O último concurso daqueles tempos a que me lembro de ter assistido foi o de 1986. Eu estava em Belo Horizonte, num quarto de hotel, com meu irmão, minhas duas primas e o pai delas, santo tio Sérgio, que recebera a pesada incumbência de cuidar de nós naquela noite infindável. Horas antes, recebêramos um telefonema de São Paulo: meu avô, pai do meu pai, tivera um enfarte. Eu tinha 11 anos, não sabia o que era enfarte. Sabia que era sério, mas, até aí, o que é sério para uma garota dessa idade? Já era noite, meu pai, minha mãe e minha tia embarcaram em um avião o mais depressa possível e nós seguiríamos de carro, com meu tio, na manhã seguinte. Tentávamos nos distrair com vestidos, trajes típicos, desfiles e respostas sem sentido, mal sabendo que meu avô não resistira ao quinto ataque do coração e já estava morto. Foi o ano em que Deise Nunes foi eleita Miss Brasil. Nunca me esqueci.

Com o tempo, os concursos de miss foram perdendo popularidade e quase desapareceram da programação. Muitos anos depois do quarto em BH, quase vinte, eu estava na casa da praia, onde não tem NET e, se quisermos ver TV, somos condenados a assistir à riquíssima (é sarcasmo, bien entendu) programação de sábado à noite na tv aberta, quando a Bandeirantes anunciou a transmissão do Miss Universo (ou Miss Mundo, ou Miss Beleza Internacional, não me lembro bem). Fiquei radiante! Enfim, os concursos de miss tinham retomado seu charme original.

Não foi sem uma nota de desapontamento que reparei que as misses, apesar de muito bonitas, eram todas muito magrelas, muito peitudas, todas com o nariz perfeito, de dar inveja a Cleópatra. Lógico, o que esperava eu em tempos de frenéticos bisturis e academias escravizantes? Não foi o suficiente, no entanto, para abalar minha alegria de, novamente, assistir aos desfiles de vestidos glamurosos, trajes típicos estilizados e as mesmas respostas sem sentido.

No ano passado, mais uma vez, coloquei-me em frente à TV e me preparei para assistir ao Miss Universo. Conforme a cerimônia avançava, eu torcia por Natália Guimarães e a via chegar cada vez mais perto da coroa. Quando a Miss Brasil ficou entre as cinco finalistas, depois entre as quatro, as três, entre as duas!, eu quase não acreditei. Será que tinha chegado finalmente o dia em que eu veria a coroação de uma Miss Universo brasileira? Eu crescera ouvindo falar em Martha Rocha, Ieda Maria Vargas, Adalgisa Colombo, mas não as tinha visto desfilar, no auge da beleza. Nos segundos antes de o locutor anunciar a vencedora, eu voltei a ter 11 anos. Durou pouco, e minha esperança foi exterminada por uma japonesa feiosa num vestido deslumbrante.

Se alguém quiser (re)ver a causa do meu desconsolo:


Natália Guimarães, estupenda, e a japonesa sem graça


No domingo passado, foi realizada a edição 2008 do Miss Universo. Eu não assisti. Acho que fiquei traumatizada, descrente de que possamos chegar tão perto do cetro cintilante como em 2007. Pode parecer piegas, cafona, mas eu gosto de concurso de miss. Mais: eu acredito neles. Só preciso de um tempo para me recuperar do trauma sofrido no ano passado e me reconciliar com esse evento que, como vocês perceberam, já se tornou parte da minha memória afetiva.

3 comentários:

Artsy-Fartsy disse...

Sou muito mais esses concursos que aquelas passarelas sorumbáticas, cheias de "modelos" esquálidas, em cujos rostos, se pegássemos, bem poderíamos proclamar um "to be or not to be..."
Abraços!

Codinome Beija-Flor disse...

Bibi,
Vou contar segredo tá, não conta pra ninguém, até euzinha sonhava com isso.
Mas, meu sonho mesmo era ser bailarina do municipal, ficar na pontinha do pé...
Bjinho

Anônimo disse...

Começamos a falar sobre isso no sábado e, para variar, foi um dos muitos assuntos iniciados e não concluídos. Talvez pela minha total falta do mesmo ou de qualquer envolvimento emocional, ainda não entendi no que é que você acredita? O que se teria para acreditar? Beijos.