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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Chick Lit, ou literatura de parvas

Acho que eu tinha 24 anos quando li O diário de Bridget Jones, de Helen Fielding, pela primeira vez. Eu nunca tinha ouvido falar nesse livro e comprei porque a capa, assim como a primeira página, me agradou. Não me lembro muito bem do ano – naquela época, eu não anotava o ano da compra ou guardava o cupom fiscal, como faço hoje –, mas comprei o livro no aeroporto de Congonhas, antes de uma viagem de trabalho para Araçatuba. Lembro-me de ter lido o livro inteiro durante os vôos de ida e volta e de ter morrido de rir, parecendo louca no avião. Eram tempos pré-Bin Laden, razão pela qual não fui presa, não fui revistada e ninguém achou que eu era realmente louca.

Durante uns três ou quatro anos, reli Bridget Jones e procurei outros livros do mesmo gênero, romances despretensiosos, divertidos e descartáveis. Nessa minha fase chick lit (o significado da expressão, eu aprendi tempo depois, quando trabalhava na Livraria Cultura: significa literatura para chicks, para garotas), li India Knight, Sophie Kinsella, Marian Keyes, Olívia Goldsmith, Sarah Dunn, Carly Alexander. Lia em inglês ou em português, tanto fazia. Acabei por me tornar quase uma expert no assunto: clientes, e até os outros vendedores, pediam dicas. A fase passou, mas dela restaram quase todos os livros, aconchegados na minha estante. Dentre eles, está Tasha Harris abre o jogo, de Jane Green.

Sempre achei que Tasha Harris era muito melhor que Bridget Jones. Como mulher, quero dizer. Como personagem mulher, quero dizer. Tasha é mais decidida, não é avoada e apatetada como Bridget. Sempre achei que deveriam ter feito o filme de Tasha em vez de Bridget, mas eu era uma voz dissonante da multidão. Bridget se tornara moda, mania, fixação: de repente, todas só queriam ler livros que fossem como O diário de Bridget Jones, todas queriam descobrir a personagem típica da jovem-inglesa-em-busca-de-um-namorado que iria tomar o lugar de Bridget. Não sei se encontraram, acabei me desinteressando do gênero antes que isso acontecesse.

Daquela época, porém, guardo boas recordações e uma delas, em especial, gostaria de compartilhar com vocês. Além de Tasha Harris, li Não há coincidências, da escritora portuguesa Margarida Rebelo Pinto. O enredo não traz muitas novidades, já que fala sobre uma mulher jovem às voltas com namorados, empregos e outros bichos. O mérito do livro, então, está na linguagem. Troca-se "cara" por "gajo", "garota" por "miúda", "metrô" por "comboio". Sabiamente, a editora optou por manter todas as palavras e gírias como no original, sem adaptações.

Como é gostoso ler o português de Portugal em uma história contemporânea!

2 comentários:

Anônimo disse...

Smith, você é uma biblioteca ambulante! Seu disco rígido (cerebral) tem alguns gigabytes de capacidade de informação!
Simão

Bia disse...

Vamos dizer que meu HD tem memória seletiva. Há coisas que, juro, gostaria muito de me lembrar e não há meios; outras que luto para esquecer e não consigo.
Será que só me resta a hipnose?