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segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Contos de Marçal Aquino

Esse ano têm sido prolífico para a minha escrita e promete ser ainda mais. Ombros tensos, lombar em frangalhos, pés inchados, olhos ressecados: todo o meu corpo se coloca a serviço do meu cérebro. Minhas células cinzentas, por sua vez – ah, diabretes impetuosos! –, se aproveitam de toda a energia que minha débil saúde consegue lhes dar e trabalham a todo vapor.

O único momento em que meu corpo consegue relaxar é quando estou fazendo as leituras necessárias para a monografia que pretendo (e preciso) entregar daqui dois meses.

O tema que escolhi está, claro, inserto na literatura policial. Falarei, entre outros autores, sobre a obra de Marçal Aquino, escritor que mencionei algumas vezes aqui. Assim, separei de minha biblioteca todos os contos de Marçal, para lê-los em ordem cronológica, com o intuito de acompanhar a evolução da escrita do autor.

Essa é a bibliografia de literatura adulta de Marçal (ele tem três títulos juvenis):

As fomes de setembro (contos). São Paulo: Estação Liberdade, 1991
Miss Danúbio (contos). São Paulo: Scritta, 1994
O amor e outros objetos pontiagudos (contos). São Paulo: Geração Editorial, 1999
Faroestes (contos). São Paulo: Nova Alexandria, 2001
O invasor (novela). São Paulo: Geração Editorial, 2002
Famílias terrivelmente felizes (antologia de contos). São Paulo: Cosac & Naify, 2003
Cabeça a prêmio (novela). São Paulo: Cosac & Naify, 2003
Eu receberia as piores notícias de seus lábios (novela). São Paulo: Companhia das Letras, 2005

(*)As fomes de setembro e Miss Danúbio estão fora de catálogo, e por isso foram republicados em Famílias terrivelmente felizes.

Comecei minha leitura por O amor e outros objetos pontiagudos. O livro tem onze contos, alguns curtos, outros que dariam uma novela, mas todos pungentes. “Pai”, “Matadouro” e “Jantar em família” retratam o momento exato em que nos damos conta de que não conhecemos nossos familiares tão bem quanto imaginávamos. É o despertar, é o tomar consciência da humanidade de nossos pais: eles, antes de pais e maridos, são homens. Fazendo o movimento inverso, “Renda-se, Bob Mendes. Você está cercado” mostra um pai descobrindo a identidade do filho tarde demais.

“O cerco” e “Novas cartas paraguaias” tratam de esconder-se e de escapar do que atormenta; trata da sombra que sempre seguirá aquele que foge.

“Bianca, 17” e “Sete epitáfios para uma dama branca (que, descalça, media 1,65m e, nua, pesava 54 quilos)” são outra história. Histórias de amor como só Marçal consegue narrar. Amores rudes, crus e reais, lancinantes de tão reais. Como diz o narrador de “Bianca, 17”, que é um escritor cuja mulher implica com as cenas de sexo contidas nos livros: “Tenho consciência de que em nenhum dos meus livros se pode dizer que os personagens ‘fazem amor’. Afinal, pessoas infelizes fazem sexo por inúmeras razões – hábito, tédio, rancor, piedade. Menos por amor”.

Estou relendo e relendo à exaustão cada um desses contos, especialmente os dois últimos que mencionei, e não paro de descobrir novas nuances.

Recomendo, muito. Quem sou eu para opinar, mas ainda assim faço questão de dizer: Marçal Aquino é muito bom naquilo que faz.

3 comentários:

Blog do Beagle disse...

Vou tantar. Ando impossível apra ler. Começo e largo com a maior naturalidade. Os livros não lidos se acumulam na prateleira da estante... Não tenho me encantado com as histórias e com as formas de conta-las. Metida, eu, não??? Bjkª. Elza

Anônimo disse...

Juro que vou tentar!

Bia disse...

Elza,
metida, nunca; apenas seletiva!

Anônimo,
tente, tente, acho que não se arrependerá.

Beijos aos dois (ou duas)!