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domingo, 9 de dezembro de 2007

O poeta, de Michael Connely

Há alguns anos, eu trabalhava na Livraria Cultura quando, na hora de fechar a loja, deparei-me com um livro velho em cima de um dos bancos. Não pertencia à loja, era um livro usado, e logo imaginei que algum cliente o esquecera ali. Recolhi o volume e guardei-o em uma gaveta, certa de que o dono apareceria no dia seguinte. Passaram-se dias, semanas, um mês ou dois, acho, e ninguém apareceu. Consultei os outros vendedores e nada – o livro tinha sido abandonado.

Se há duas coisas que não suporto ver desamparadas são cachorrinhos e livros. Um dia, minha casa terá a honra de se tornar o lar de um cão magro e destratado, que engordará e receberá o nome Nero Wolfe. Enquanto isso não acontece, eu recolho os livros que surgem em meu caminho, e a eles dou um lar. Em sebos, se encontro um livro com dedicatória, procuro me disciplinar para adquiri-lo somente se for do meu interesse. Porque, na verdade, o que acontece é que sou acometida de uma profunda compaixão: se a pessoa a quem ele era destinado desprezou-o, vendeu-o, mercadejou o sentimento do presenteador, como eu poderia fazer o mesmo? Coitado, um livro não merece ser desprezado duas vezes. But that’s just me. E me afasto do tema principal deste post. Bom, retomemos.

O livro abandonado que acolhi chamava-se O poeta, romance policial americano publicado pela editora Best Seller, se não me engano em 1997. Comecei a lê-lo na mesma noite e logo fiquei impressionada com a narrativa forte, pesada e intensa, daquelas que dá gosto ler e em que a descrição dos eventos é tão importante e impressionante quanto seu desfecho.

O autor, Michael Connelly, escreve romances policiais à moda antiga. Fã declarado de Raymond Chandler, seus livros são ambientados na Los Angeles contemporânea, uma das cidades mais inspiradoras da ficção. Connelly foi repórter policial do Los Angeles Times e essa experiência está presente em muitos de seus livros. Seu principal personagem, protagonista de 13 dos seus 18 romances, é Hieronymus Bosch, detetive da polícia de Los Angeles cujo nome foi inspirado pelo pintor do século XV.

Em O poeta, Michael Connelly deixa Bosch de lado e nos apresenta Jack McEvoy, jornalista que investiga a morte de seu irmão gêmeo, policial vítima de um serial killer que deixa mensagens citando os poemas de Edgar Allan Poe. O livro acaba de ganhar nova edição, desta vez pela Record. Na esteira do lançamento, a revista Época publicou uma entrevista com o autor na edição desta semana, em que ele comenta a greve dos roteiristas em Hollywood e, mais importante, discute a função social do romance policial.

Connelly afirma que “o romance de crime tem a função de captar a realidade antes dos outros gêneros literários, é o veículo dos grandes dramas e dilemas atuais”. Eu não poderia ter me expressado melhor. Acho que o romance policial capta os instintos mais primitivos dos integrantes da sociedade em que está inserido e, dessa forma, é um dos mais fiéis retratos que se pode traçar.

But, then again, that’s just me.

3 comentários:

Thiago Carvalho disse...

Legal !!

Gostei do livro..
Pretendo comprá-lo em breve..

Ele me faz lembrar um pouco o filme Righteous Kill, com Al Pacino e Robert de Niro.

Parabéns pelo blog..
Posso add aos links do meu blog ?
O Criminália também ?

Abraços

Bia disse...

Seja bem-vindo ao Casco da Tartaruga, Thiago!

O livro O poeta é realmente muito bom. As narrativas de Michael Connelly geralmente cativam pelo ritmo e pela verossimilhança.

Conheci seu blog há algumas semanas e muito me honraria que você colocasse o Casco e o Criminália em seus links.

Obrigada pela visita! Volte mais vezes!

Um abraço,

Bia

Thiago Carvalho disse...

Do Michael Connelly eu só li Cidade dos Ossos e gostei bastante..

Vou adicioná-la então !! =)

Obrigado pela atenção

Abraços

Thiago