JAMES
Dançávamos ao redor do salão. Elegância, pompa e circunstância. Minha cintura, seus braços, eu ria, você também. Lembro de todos os detalhes brancos, os detalhes rendados, lavandas, lilases. É tudo tão real, mas já passou. Foi diáfano, etéreo, eterno, tranqüilo, intenso, inebriante. Tão envolvente que mal consigo escrever, apenas lembrar.
Obrigo-me a pegar da pena. É preciso contar, James, não posso mais com o fardo sozinha. Deposito-o no papel, confidente perfeito. É mudo, não me criticará, não fará juízo de nós. Quando alguém encontrar esta nota amanhã, saberá que não vivi em vão.
O ramo de lavanda em cima do travesseiro, você ainda não chegara. Andando pelo quarto, eu procurava me acalmar. Por entre as frestas da porta pesada, esgueiravam-se notas austríacas que murmuravam a melodia há muito ensaiada. A música de súbito abriu a porta e alucinada me arrebatou e me fez cativa liberta. Lembra, James?
O ramo de lavanda está jogado em um canto do quarto, no chão de madeira. O tecido amarrotado, rendado, desarrumado, você já se foi. Encolho-me, entregue, e já não sou mais o que era. O mercadejar, a que estava acostumada e em que me encontrava senhora, não mais me pertence. É dessa lascívia, que de mim se apossa, que agora sou serva.
James, eis o ramo de lavanda, estame lasso e frouxo como minha luta, belo e perfumado como meu corpo livre da mercancia. Carregue-o com você, se quiser, ou então deixe-o em cima do mármore da minha última residência.
(novembro de 2007)
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
A escrita de mim 06
Postado por Bia às 16:17
Tartatags: meus textos
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2 comentários:
Ma-ga-vi-lhooooo-soooo!
Obrigada!
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