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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Resposta óbvia

De casa para o trabalho, do trabalho para casa.
Duas vezes por dia cada percurso.
Todos os dias.
Há meses.
Só os horários é que mudam.

É muito tempo percorrendo os mesmos nove quarteirões. Já sei a que horas abre a maioria das lojas, já decorei quais calçadas são as melhores para a caminhada, já descobri em quais esquinas é melhor para atravessar a rua. Dou bom-dia para o passeador de cachorros, para o pai de um vizinho com quem tive um caso há muitos anos (o vizinho, não o pai, bien entendu), para os motoristas do ponto de táxi. E porque de tempos em tempos eu sonho com um buldogue que se chamará Nero Wolfe, fico reparando nos cachorros que saem para passear sempre nos mesmos horários.

Uma vez vi um perdigueiro marrom com manchas brancas que levava a dona no trote por quarteirões seguidos. O bicho pulava, corria, cão de caça mesmo, daqueles que não deixa passar nem uma folha seca rolando. Achei graça no jeito com que a moça se esforçava para acompanhar o passo do cachorro. Eles passaram e continuei meu caminho. Depois disso, passei a encontrá-los com certa regularidade e até descobri onde moram. Numa manhã, os vi saindo de um prédio baixo na esquina de onde fica a agência onde trabalho.

Dias depois vi outra mulher passeando com o perdigueiro marrom e branco. Achei estranho, mas imaginei que fosse a mãe da primeira moça. Quando a encontrei pela segunda vez e pude reparar melhor, vi que era jovem demais para ter uma filha daquela idade e fiquei intrigada. Qual seria a relação entre as duas? Concluí que o mais provável é que dividissem a mesma moradia e o mesmo bicho de estimação. Podiam ser namoradas, quem sabe.

Foi quando vi a segunda mulher sair de um prédio antigo e luxuoso que fica no meio do quarteirão, pouco antes da agência. Com o cachorro. Foi aí que não entendi mais nada. Minha teoria estava furada. Elas não dividiam um apartamento, não moravam juntas, talvez não fossem namoradas. Mas, então, o quê? Matutei um pouco, analisei as opções e... ah, lógico. Elas ERAM namoradas, mas se separaram e agora dividem a custódia do cachorro. Só podia ser isso, óbvio. Continuei meu caminho satisfetia, com a minha mente literária e ficcional até o último neurônio feliz com o desfecho lógico que eu tinha encontrado para aquele mistério.

Ontem, percebi que as coisas são bem mais simples e óbvias do que sonha a minha cabeça de contadora de histórias. Eu caminhava para casa na hora do almoço e ao dobrar a primeira esquina encontrei as duas mulheres. Com DOIS cachorros! E foi exatamente isso que eu falei, em voz alta e incrédula, quando as vi: "São dois cachorros!" As duas me olharam, deram risada e, quando o semáforo ficou verde, cada uma de nós seguiu uma direção diferente.

Fui-me embora para casa, sorrindo sozinha e murmurando: "São dois cachorros...!"

Tão simples, né?

Um comentário:

Fábio disse...

Fábio diz: - Essa história eu já sei, li no blog.

Agora devidamente comentado...rs

Bjs!