Como preparadora e revisora de textos não-ficcionais, tenho muito mais liberdade para sugerir mudanças e adaptações do que alguém que trabalhe com literatura, seja ela de que tipo for. Tenho trabalhado com textos jornalísticos, em que a clareza e a objetividade são requisitos indispensáveis e meu lema tem sido a máxima de Churchill: Das palavras, as mais simples; das mais simples, a menor.
Em recent post, o blog Assinado: Tradutores, responsável por chamar a atenção para o trabalho hercúleo que é traduzir qualquer coisa, traz a reprodução de um artigo assinado por Milan Kundera sobre as dificuldades enfrentadas por tradutores, copidesques e revisores.
É realmente muito delicado trabalhar com o texto literário de outrem. Tive a oportunidade de fazer isso apenas uma vez, para um autor que prezo muito e por quem tenho muito respeito. Ainda assim, era irresistível a vontade de adequar tempos verbais, incluir vírgulas, desmembrar parágrafos. Aos poucos, fomos nos adequando, ele e eu, um ao outro, até que me lembrei da regra de ouro que me foi ensinada por Ibraíma Dafonte Tavares, profissional bastante experiente no ramo: em textos literários de autores nacionais, o preparador deve se limitar a corrigir a ortografia. E só. Mais que isso significa interferir de tal forma no texto que pode deturpar o resultado do processo criativo.
Daí em diante, meu trabalho fluiu bem melhor. Compreendi que não podia tratar o texto como se fosse meu, que não podia aplicar a ele as regras que aplicaria se aquelas palavras tivessem sido escritas por mim. Compreendi que preparar, ou revisar, um texto literário é antes de tudo um exercício de respeito ao autor, de reverência à sua escrita, e que minha função é tão-somente fazer todo o possível para polir e abrilhantar as idéias alheias.
Assim que estiver nas livrarias eu avisarei, para que vocês possam conferir o resultado desse meu aprendizado.
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