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quarta-feira, 18 de junho de 2008

Clube do Livro

Quando eu era criança, meus pais me incentivavam muito a ler. Minha mãe, e a mãe dela, sempre foram boas leitoras. Até hoje o são, embora em ritmo diferente: se antes o andamento era vivace, hoje está mais para allegro ma non troppo.


Para que pudéssemos, então, criar o hábito da leitura, meus pais se associaram ao Círculo do Livro. Lembro-me de que adorava os informativos e lia a revista, do começo ao fim, com a mesma atenção que eu dedicava aos livros estampados naquelas páginas, anotando à margem todos os títulos que tentaria convencer meus pais a comprar.

Alguns anos depois, a empresa faliu e nunca mais ouvi dizer de iniciativa semelhante, a não ser pelo Music Club, da Abril, mas que era destinado a CDs. Metade dos livros de Agatha Christie que tenho são do Círculo do Livro e, a julgar pelo número de volumes que encontro em sebos São Paulo afora, imagino que muita gente fazia parte desse mesmo clube.

Vez ou outra aqui no blog, eu comento sobre o mercado editorial. Acho que não o faço com a mesma freqüência com que leio as notícias dando conta de que a situação não é das melhores, inclusive no maior mercado do mundo, o norte-americano. O Shelf Awareness relata diariamente o fechamento de livrarias independentes ou iniciativas de quem persiste nessa roça e tem de aumentar as vendas. Por outro lado, fusões milionárias e mudanças de linha editorial demonstram que as editoras também estão preocupadas com o futuro do livro.

Uma nova tentativa de agitar o mercado é o The New Progressive Book Club, assunto da coluna de hoje de Motoko Rich no NY Times. O esquema é bastante simples: os leitores são convidados a se associar e comprar 3 livros por 1 dólar cada, em troca do compromisso de adquirir outros 4 livros nos próximos 2 anos. A empresa garante que o preço dos livros será calculado de forma a competir com as gigantes online Amazon e Barnes & Noble e a garantir bons rendimentos para os autores.

Como o próprio nome diz, o novo clube do livro reúne obras com temática progressiva, seja lá o que isso quer dizer. Mas pouco importa o assunto. Acho que o destaque da notícia é, justamente, a criação de um clube do livro como mais uma tentativa de angariar leitores que, até nos Estados Unidos, estão rareando cada vez mais.

Penso que iniciativas assim poderiam ser implantadas no Brasil, mas pelas livrarias. Gente como Livraria Cultura, Martins Fontes ou Livraria da Vila, em São Paulo, a Livraria da Travessa ou a Argumento, no Rio, ou as Livrarias Curitiba, no sul do País, poderiam desenvolver projetos semelhantes. Um comitê formado por vendedores competentes (espécie em extinção em lugares como a Cultura, infelizmente) escolheria um ou dois livros por mês e os clientes participantes receberiam o livro em casa.

Montar uma operação como essa ou cuidar da logística não é meu departamento, Minha função aqui é dar idéias, simplesmente. Então, fica aí a sugestão.

2 comentários:

Anônimo disse...

Amiga, eu lembro do círculo. Havia um clube, também, e uma biblioteca circulante, lá na cidade de onde venho; contudo, eu era uma rebelde sem/com (sem trocadilhos) causa, e não aceitava, por exemplo, a imposição: neste mês o livro é este, e ponto final. A biblioteca circulante ficava sendo a opção mais desejada. Imagine você uma mulher que não gosta de romance... e em todos os sentidos. Beauvoir deturpada? Demaquilada? Não sei.
E meu gosto era diferente da maioria das meninas e dos meninos da época. Uma ovelha desgarrada do rebanho, sem almocreve para tangê-la. Às vezes, o Padre, que se espantava:
- Menina, como você ousa dizer que a Bíblia tem cunho político?
- Ora, Padre, Santo Agostinho deixa entrever isso.
- ?
- Sim, Padre! Veja só o que ele diz em "A Cidade de Deus". Aliás, como ele virou santo, Padre? Ele mandava matar!
- Filha, vá para casa fazer suas lições. Leia José de Alencar. É tão gostoso!
- Ai, Padre, não consigo gostar. Alguma coisinha aqui, outra ali... Lucíola, vá lá.
- Lucíola? Quem deixou você ler Lucíola? Vá ler O Guarani.
- Pode ser O Primo Basílio, Padre? Ou então alguma coisa de Nabokov?
- Menina, vou chamar suas tias aqui, para termos uma conversa!
- Não, Padre, por favor! Eu já estou terminando o "Quo Vadis?"!
- Ah!, este pode.
- Então, Padre, e quanto a Santo Agostinho?
- Outra hora conversamos... vá para casa.
- Padre, só uma última pergunta: os homens, no Antigo Testamento, juravam com a mão sobre a perna? Era sobre a perna ou sobre...
- Já para casa!
- Sim, Senhor!

Bia disse...

Hahahaha, Iphy, querida, faz-me rir, e muito!
Você deve ter sido endiabrada quando criança, não é á toa que o padre escurraçou-a da igreja.
Adorei a história!
Beijos da Bia