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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Sobre Adrian Lyne

Rever filmes sempre acrescenta algo novo à impressão que eles me causaram quando os vi pela primeira vez. Por exemplo, rever os três primeiros episódios de Guerra nas Estrelas depois de assistir os três últimos – em ordem de filmagem, bem entendido – mostra como os efeitos especiais evoluíram desde 1977. Ou rever Uma secretária de futuro, com Melanie Griffith e Sigourney Weaver, e se dar conta de que, ainda bem, os anos 80 passaram e, com eles, os cabelos, as roupas e toda a paranóia yuppie.

Pois bem, hoje à noite eu revi Proposta Indecente, dirigido por Adrian Lyne e estrelado por Robert Redford, Demi Moore e Woody Harrelson. Todos vocês lembram do filme. Sobre ele, farei apenas dois comentários: primeiro, a história é clichê; segundo, a história é inverossímil. Clichê, porque a história de pessoas perfeitinhas que são tentadas pela ganância ou luxúria não é novidade. O Advogado do Diabo, Ligações Perigosas, entre tantos outros, falam sobre a impossibilidade de resistir à tentação, seja do sexo, seja do dinheiro. Inverossímil, porque na vida real o proponente se pareceria mais com o Olacyr de Moraes do que com Robert Redford. Mas não foi nada disso que chamou minha atenção.

Adrian Lyne dirigiu, segundo o site IMDB.com, nove filmes. Não tenho idéia de como são os dois primeiros, mas esses são os outros sete:

Flashdance - em ritmo de embalo (Flashdance, 1983)
9 ½ Semanas de Amor (9 ½ Weeks, 1986)
Atração Fatal (Fatal Attraction, 1987)
Jacob’s Ladder (1990) [eu assisti, mas não lembro o título em português. É um filme meio esquisito, com Tim Robbins. Não gostei.]
Proposta Indecente (Indecent Proposal, 1993)
Lolita (idem, 1997)
Infidelidade (Unfaithful, 2002)

O que me ocorreu, enquanto eu revia Proposta Indecente, foi que parece que Adrian Lyne está sempre buscando causar polêmicas, mas talvez a intenção dele não fosse somente essa. Talvez ele queira fazer com que as pessoas pensem e repensem as relações entre homem e mulher, mas não consiga. Acontece, porém, que ele é tão incompetente e tão clichê que seus filmes ficam no meio do caminho entre o erótico e o dramalhão. As pessoas assistem Adrian Lyne para pensar (ou fazer) sexo, mas preferem assistir Woody Allen para inspirar-se a discutir relacionamentos (ok, talvez Woody Allen seja um pouco neurótico demais, mas vocês entenderam o que eu quis dizer).

As mulheres nos filmes de Adrian Lyne são, quase sempre, desajustadas. Alex (Glenn Close, em Atração Fatal) não suporta levar um fora; Diana (Demi Moore em Proposta Indecente) é quem instiga o marido a aceitar o acordo milionário; Lolita (Dominique Swain no filme de mesmo nome) é uma criança, mas cheia de vontades de toda natureza; e Connie (Diane Lane em Infidelidade), apesar de ter realizado o sonho americano, não hesita em pular na cama do primeiro francês charmoso que aparece em um dia de ventania.

Curiosamente, é justamente nas mulheres que está a única coisa boa desses filmes. Glenn Close e Diane Lane foram indicadas ao Oscar. A cena em que Connie (Diane Lane) está no trem, voltando para sua vidinha suburbana depois de uma tarde com o amante, é uma das mais incômodas que já vi. Muito emocionada, ela se divide entre as lágrimas e o riso, entre o remorso e o prazer. A cena é muito bonita; não à toa foi escolhida para passar no telão durante a cerimônia do Oscar. Mesmo assim, o filme é ruim.

E os homens? Dan (Michael Douglas em Atração Fatal) é metido a garanhão e acha que consegue tirar de letra o fato de trair a mulher, desde que seja uma vez só. David (Woody Harrelson em Proposta Indecente) é metido a bonzinho e acha que consegue tirar de letra a traição da mulher, desde que seja por dinheiro e uma vez só. Humbert (Jeremy Irons em Lolita) é fraco e manipulado pela ninfeta. E Ed (Richard Gere em Infidelidade) é tão simplório que não vale a pena nem comentar.

Traição é um tema constante na filmografia de Adrian Lyne, apesar de mal abordado. Por isso, encerro esse post com dicas de dois filmes que, na minha opinião, foram muito mais felizes ao abordar o tema:

Por uma Noite Apenas (One Night Stand, 1997), com Wesley Snipes, Nastassja Kinski e Robert Downey Jr. – tem gente que odeia, mas eu adoro esse filme.

Closer – Perto Demais (Closer, 2004), com Julia Roberts, Clive Owen, Natalie Portman e Jude Law – de novo, tem gente que detesta, mas eu gosto muito. Já até me inspirei nesse filme para escrever um parágrafo.

Quem tiver sugestões de outros filmes sobre o assunto, pode mandar um e-mail, se quiser. Farei atualizações com os títulos que eu receber.

E.T.(1) Como vocês podem perceber, voltei de viagem mais cedo do que eu disse aqui.

E.T.(2) Se você leu até aqui, talvez queira ler sobre fidelidade em outro post.

Atualização (7/2/2008): Beija-flor sugere Jornada da Alma, baseado na correspondência entre Freud e Jung, sobre uma paciente chamada Sabina. Ela foi a primeira paciente em quem Jung aplicou as teorias do mestre Freud. Médico e paciente se tornam amantes e ela acaba por se tornar psicanalista também. Não vi o filme, mas a história parece muito interessante.

4 comentários:

Anônimo disse...

Já estava sentindo falta de suas indicações ponderadas. Não fuja mais assim, ou então vá e leve o computador de mão, sim? Este blog não é só seu, mas de todos nós! Compreendeu a carraspana?
Quanto a 'o advogado do diabo', li o livro muito antes de ver o filme. Tudo o que se refere à fragilidade do ser-humano para mexer com a vaidade prende-me por demais a atenção, já que é mesmo um de nossos pontos mais fracos, senão o ponto mais fraco. Quantos criminosos famosos foram traídos pela grande auto-estima?
Bom, vou acatar a sugestão para os filmes que não vi ainda, ok?
Amplexos!
Simão

Anônimo disse...

Fui pesquisar no Google sobre o filme e também o blog que você mencionou, mas pelo link do seu post não acessa, achei também pelo Google.

http://esfinge-codinomebeija-flor.blogspot.com/

Bia disse...

Simão, obrigada pelas palavras sempre gentis.
Concordo com você: a vaidade é algo muito traiçoeiro.
Beijos!

Bia disse...

Opa, Anônimo, valeu o toque!
Já consertei o link para o blog.
Obrigada pela visita!