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segunda-feira, 6 de novembro de 2006

A escrita de mim 01

Só para ilustrar o texto abaixo, colo aqui um qualquer-coisa que me ocorreu no momento em que terminei de assistir Closer, do Mike Nichols (Quem assistiu? É fantástico!):

ALICE
I can't take my eyes of you
I can't take my mind of you
I can't take my hands of you
Lembro de quando te vi. Você me disse que não gostava de palhaços, me disse que tinha medo daqueles coelhos de Páscoa enormes, no supermercado. Eu te contei que não conseguia nadar sem bóia até os doze anos e que nunca gostei de matemática. Você respondeu que nadar sem bóia é muito mais importante que matemática. E nesse tempo todo, eu não conseguia tirar meus olhos de você, não conseguia parar de reparar em todos os seus detalhes. Suas unhas bem curtas, sua marca de catapora, seus cabelos longos, seus brincos, a queimadura no braço, não conseguia tirar meus olhos de você.
Lembro de quando acordei ao seu lado, em um domingo. Era mais um dia, mais uma repetição da nossa vida, mais ainda assim eu reparei. Reparei no sofá novo, reparei no seu livro pela metade, com o marcador de páginas que te desafiava noite após noite, reparei que o rádio-relógio estava fora da tomada, reparei que tínhamos toalhas novas no banheiro. Não conseguia parar de reparar, em tudo, em você, em nossa casa, em nós. Não conseguia tirar você do pensamento.
Quis estar com você todo o tempo, quis te proteger, falhei. O sofá rasgou, o livro se foi, o rádio quebrou. Sigo você por todos os lugares, atrás de você no ônibus, peço a mesma salada no almoço, leio o mesmo jornal, dia após dia. Meus olhos procuram seu rosto, minha mente procura suas palavras e tudo está lá.
Minhas mãos, elas percorrem seu corpo, tocam sua marca de catapora, passeiam pelas suas cicatrizes. Acariciam seu pescoço, a linha onde está o colar que ele te deu. Unidos, eu e você, minhas mãos, minha vontade, minha força, seu último sopro. Não consegui me manter longe de você.
É isso.

2 comentários:

Furlan disse...

Olhaqui, vá fazer chorar a alguém da sua família, tá? Lazarenta. Lindo!

Bia disse...

Gosto muito desse texto também.
Minha escrita, normalmente, é assim, fragmentada, anônima.
Obrigada pelo elogio!